Hugh Jackman ao estilo “cavaleiro solitário” em “Logan”| Foto: 20th Century Fox/Divulgação

Será que todo o preconceito com filmes de super-herói era só por causa dos uniformes?

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Apesar dos muitos bilhões de dólares de sucesso nas bilheterias, os filmes de super-herói continuam ainda – sim, ainda – sendo ridicularizados como histórias para crianças, inadequadas para adultos. Esse sentimento aparece em manchetes que dizem coisas como: “Nenhum adulto de respeito devia comprar quadrinhos ou ver filmes de herói” (um trecho da matéria se pergunta: “Será que dá para darmos um tempo com os filmes de super-herói? Filmes que são pesados demais para as crianças para quem os quadrinhos foram escritos originalmente, mas que são burros demais para qualquer adulto pensante”).

Simon Pegg – que recentemente atuou nos últimos filmes de “Star Trek” e “Star Wars” – descreve as histórias de super-heróis e quadrinhos como “infantilizantes” e “coisas bem para crianças” que os “adultos estão assistindo”. E até o mesmo o diretor David Cronenberg, que não é nenhum estranho ao cinema de nicho, afirmou que “um filme de super-herói, por definição, sabe, é um quadrinho. É para crianças. É adolescente, no fundo. Esse sempre foi o seu apelo”.

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Filmes de super-herói são escapistas? Mas é claro que são, tanto quanto um filme de terror ou um thriller de ficção científica ou um filme de artes marciais ou um western italiano. O que nos leva a “Logan” e seu estilo difícil de definir.

Como o décimo filme da franquia dos X-Men, “Logan” agora vem recebendo o tipo de resenhas que filmes de super-herói de grandes estúdios não veem desde 2008, ano que foi um marco para o gênero, quando entraram em cartaz “O Cavaleiro das Trevas” e “Homem de Ferro” (“Logan” foi avaliado com nota 77 no Metacritic.com – igual “Homem de Ferro” e perdendo por pouco para “O Cavaleiro das Trevas”, com 82). E um dos motivos pelo qual o público que despreza filmes de herói parece ter gostado tanto desse Wolverine de Hugh Jackman é porque “Logan” é, ao mesmo tempo, uma homenagem a um gênero que já conta com ampla aceitação – o western – e a histórias clássicas dos quadrinhos da Marvel como “Velho Logan”.

Velho Oeste

São explícitas as referências que o novo filme faz a “Os Brutos Também Amam”, de 1953. Há cenas dele que aparecem reproduzidas, frases de diálogo citadas e alusões a partes do enredo.

E o diretor James Mangold e seus corroteiristas têm ainda nas suas mangas com franja de caubói muitas outras referências explícitas a westerns – uma das marcantes sendo as referências à obra-prima dos anos 90 “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood, em que um ex-pistoleiro que se torna homem de família é obrigado a pegar em armas por uma última vez.

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“Logan” também deriva inspiração do filme de Eastwood “Josey Wales – O Fora da Lei”, dos anos 70, em que o protagonista não consegue abandonar o estilo de vida de pistoleiro do velho oeste. E “Bravura Indômita” parece ter tido um papel nisso tudo também, dada a presença de uma menina junto que acompanha o herói na jornada perigosa.

“Logan” dá até uma piscadinha para os filmes da série Mad Max – westerns apocalípticos que nos lembram que Mel Gibson jovem poderia ter representado um Wolverine selvagem bastante convincente.

Assim, Mangold demonstra ter consciência de que os lugares-comuns identificados com os westerns podem ser adaptados com facilidade para uma ampla variedade de filmes de ação – desde a história do pistoleiro solitário em busca de vingança até a gangue de justiceiros e as rivalidades que culminam em tiroteios por conta de dinheiro, terra ou casamento.

Outro fator que colabora para esse jogo entre gêneros de “Logan” foi o diretor de “X-Men”, Bryan Singer, e sua equipe, há quase duas décadas, terem tomado a decisão de trocar o amarelo berrante do uniforme mais conhecido do personagem pelos jeans e regata que ele usa agora nas telonas.

Os cineastas de “Logan” chegam ainda a fazer a provocações para os fãs dos quadrinhos, particularmente quando Wolverine diz à sua filha mutante que “gibis são que nem sorvete para criança que faz xixi na cama”.

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Diálogos como esse enfatizam a consciência que os cineastas têm da sua missão. Ao disfarçarem seu filme mais recente do Wolverine com a aparência de um outro gênero, mais bem visto – só para comparar, nas últimas três décadas, houve quatro westerns que ganharam o Oscar de melhor filme, contra as zero indicações (que dirá Oscars de fato) para filmes de super-heróis –, Mangold e sua equipe não só construíram um Wolverine com um teor mais adulto, como foram além. Eles também construíram um belo cavalo de Troia capaz de atravessar a barreira do preconceito cinematográfico.