Curtis Hanson, que morreu no último dia terça-feira 27 de setembro, aos 71 anos, foi um diretor de prodigiosa variedade. Em um período de cinco anos, lançou uma adaptação do romance de Michael Chabon “Garotos Incríveis”; “8 Mile”, uma pseudocinebiografia estrelando o rapper Eminem; e “Em Seu Lugar”, uma maravilhosa tradução para a tela do penetrante livro de Jennifer Weiner a respeito de duas irmãs diferentes, interpretadas lindamente por Toni Collette e Cameron Diaz, que nunca voltou a fazer nada igualmente bom.
Em outro dia, eu poderia lembrar Hanson elaborando a respeito de “Em Seu Lugar”, que parece parte de um último suspiro – ao menos por enquanto – de filmes de qualidade a respeito de mulheres e relacionamentos, que terminou por volta de 2005. Mas, como assisti recentemente, parece apropriado revisitar “Los Angeles – Cidade Proibida”, o filme atraente e perturbador de Hanson a respeito do Departamento de Polícia de Los Angeles nos anos 1950, que parece mais relevante hoje do que nunca.
“Los Angeles – Cidade Proibida” é um filme grande e complicado sobre um monte de assuntos, entre eles o estado da indústria da fofoca em Los Angeles naquela época (dotada de deliciosa malícia pela atuação de Danny DeVito no papel do caçador de escândalos Sid Hudgens), o tráfico de drogas e a comodificação das celebridades. Mas, em seu núcleo, é uma história sobre a diferença entre o que departamentos de polícia dizem que querem e aquilo que realmente precisam, e as maneiras pelas quais instituições e indivíduos interagem. Alerta de spoiler: as instituições geralmente ganham.
Imagem x realidade
A lacuna entre imagem e realidade se mostra mais fortemente na trama envolvendo Jack Vincennes (Kevin Spacey), um policial que também é consultor técnico para “Badge of Honor”, inspirado em “Dragnet”, um drama policial antigo que era essencialmente propaganda para o Departamento de Polícia de Los Angeles. Conforme Jack tenta deixar “Badge of Honor” mais realista, ou pelo menos uma versão da realidade que seja elogiosa ao departamento, ele transforma seu próprio trabalho policial em um espetáculo para a mídia, armando uma prisão em frente a um cinema e alertando Sid para que consiga tirar e imprimir fotos exclusivas dos supostos heroísmos de Jack.
Mas a queda de Jack vem quando ele tenta imitar não apenas o estilo da ficção que ajudou a criar, mas também a substância. Quando começa a investigar uma série de mortes suspeitas, Jack descobre práticas de corrupção incompatíveis com a imagem do departamento. Uma solução para essa disjunção seria extirpar a corrupção. A outra é silenciar as vozes que chamam atenção para ela. Você provavelmente pode adivinhar o que acontece na sequência.
Uma tragédia ainda mais repulsiva recai sobre Ed Exley (Guy Pearce), um jovem policial que efetivamente incorpora a imagem que Jack trabalha tão duro para construir. Ele anseia viver à altura dos padrões estabelecidos por seu pai, um lendário policial que foi morto no cumprimento do dever. E é constantemente despedaçado pelo conflito entre aquilo que seus ideais lhe dizem e as instruções mais explícitas que capta a respeito de como ter sucesso no Departamento de Polícia de Los Angeles. Ele é o tipo de homem que tenta impedir seus colegas policiais de espancarem um grupo de mexicanos até a morte, mas acaba preso em uma cela.
Equilíbrio insustentável
Por um tempo, parece que Ed conseguirá encontrar maneiras de reconciliar sua consciência com as necessidades do departamento. Depois do ataque contra os mexicanos, baseado no escândalo real do Natal Sangrento, ele calmamente sugere que o departamento “atribua a culpa a homens cujas pensões estão asseguradas. Os force a se aposentar. Mas alguém tem que rodar... A mensagem será bem clara. Esse novo Departamento de Polícia de Los Angeles não tolera policiais que pensam que estão acima da lei.” Sua prescrição é justiça, mas não muita, e aplicada estrategicamente, em vez de moralmente.
Os eventos de “Los Angeles – Cidade Proibida” eventualmente tornam o equilíbrio que Ed está tentando manter insustentável. Conforme o filme termina, ele encena sua própria versão da moldura que Jack ajudou a criar para “Badge of Honor”, só que mais sangrenta e impactante. Ele perdeu a fé na habilidade do departamento de polícia de se limpar por meios legítimos, e em vez disso decidiu criar uma ficção reconfortante que corresponde aos fatos que o público preferiria que fossem verdadeiros.
“Los Angeles – Cidade Proibida” saiu em 1997, em uma época em que as ficções que os departamentos de polícia contavam sobre si mesmos poderiam ser ocasionalmente interrompidas por algo como filmagens de policiais espancando Rodney King, mas eram frequentemente ainda sustentáveis. Aquelas histórias, aquelas imagens perfeitas e lustrosas, são mais difíceis de serem mantidas agora em uma era de filmagens de câmeras nos painéis das viaturas e no corpo dos policiais, e o fato de que muitos de nós carregamos equipamentos de filmagem e transmissão na forma de telefones celulares.
Mesmo assim, “Los Angeles – Cidade Proibida” permanece uma perturbadora reflexão a respeito de quanto tempo aqueles mitos persistiram, de quão falsos eram e de quanto esforço que era necessário para sustentá-los. Curtis Hanson se foi, mas “Los Angeles – Cidade Proibida” permanece uma contribuição enervante e altamente relevante.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares