Alguém mais inteligente do que eu disse que a melhor coisa do filme “O Regresso” é o Tom Hardy. “Tá bom”, respondi, e ficou por isso mesmo.
Na primeira vez que vi o filme, em cartaz nos cinemas e indicado a 12 Oscars, Hardy me chamou atenção uma vez ou outra, mas é que – perdoe a repetição – eu não prestei muita atenção nele.
Impliquei com Hardy porque ele fez o vilão Bane num dos filmes do Batman dirigido pelo Christopher Nolan, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. E sou um dos três ou quatro caras no mundo que não gostam do Nolan nem de filmes de super-herói que não têm senso de humor. (Não me odeie; respeito sua opinião e admito que o Nolan é bom no que faz).
Vi “O Regresso” pela segunda vez e então percebi quem é Tom Hardy: um ator extraordinário. Um novo Marlon Brando.
Fui atrás de outros três filmes dele, na Netflix, e meu respeito pelo britânico aumentou mais e mais.
Leonardo DiCaprio, com quem Hardy contracena em “O Regresso”, é um ator bom e deve levar o Oscar deste ano. Mas, toda vez que vejo um filme dele, não esqueço nunca de que é DiCaprio ali, na tela, se esforçando um monte para fazer direito o papel que assumiu.
É como se o star power dele (expressão que os americanos usam para se referir ao encanto que um ator ou atriz exerce sobre o público) fosse tão grande – ele é tão, mas tão famoso – que nenhum personagem vivido por ele no cinema consegue se sobrepor à figura pública de Leonardo DiCaprio.
Assim, não é um desbravador em busca de vingança que se vê em “O Regresso”, mas sim o DiCaprio fazendo um desbravador em busca de vingança. O mesmo vale para quase todos os papéis que ele assumiu ao longo da carreira, com uma exceção notável: o menino com deficiência intelectual de “Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador” (1993).
Tom Hardy, talvez por não ser uma celebridade (ao menos não ainda), ou talvez por ser um ator em um milhão, consegue desaparecer por completo nos papéis que assume. É, de fato, uma proeza impressionante.
Quando fez o vilão Bane, ele usava uma máscara que escondia parte do rosto e é normal que você não consiga se lembrar dele. Porém, na prática, ele sempre está com uma máscara, ainda que metafórica. Ele é o novo Mad Max em “Estrada da Fúria”, um criminoso bizarro em “Bronson”, um fenômeno da luta livre em “Guerreiro” e um sujeito comum em “Locke”. Existem outros exemplos, mas faço a lista para dizer que é difícil aceitar que todas essas figuras foram feitas pelo mesmo ator.
O caçador de peles John Fitzgerald, de “O Regresso”, é o personagem mais complexo do filme. Não dá para dizer se o homem é bom ou mau. Não é um assassino ensandecido e sim alguém que comete erros.
Ele está mais para um sujeito de sua época que tenta sobreviver. Aquele é o começo do século 19 e a maior parte do mundo é selvagem. A cena em que ele conta um episódio sobre o pai, um homem prático que só tinha interesse nas coisas da sobrevivência, é chave para entender a época em que se passa a história.
DiCaprio sofre o diabo em quase três horas de projeção, mas quem fica na memória é o Fitzgerald. E o Tom Hardy só precisou de três minutos.
Netflix
Tom Hardy está nos cinemas com “O Regresso” e “Mad Max – Estrada da Fúria”. Pelo primeiro, ele está indicado ao Oscar de ator coadjuvante. Os filmes dele disponíveis na Netflix são “A Origem” (dirigido por Christopher Nolan e também com DiCaprio), “Guerreiro”, “Bronson” e “O Espião Que Sabia Demais”. “Locke”, um filme surpreendente todo feito com Hardy ao volante de um carro, saiu da grade da Netflix, mas está passando na HBO.
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