Em sua carreira no cinema, o brasileiro Rodrigo Santoro já foi louco, surfista, travesti, jogador de futebol e até o atual presidente de Cuba, Raúl Castro. Quando foi convidado a interpretar um ícone da humanidade, Jesus Cristo, ele relutou, pensou e decidiu encarar o desafio. A experiência, que poderá ser vista pelo público daqui a duas semanas, quando “Ben-Hur” estreia nos cinemas, acabou representando mais do que apenas um papel.
“É impossível passar por uma experiência como essa e não sair transformado. Foi uma jornada interna e espiritual. Posso dizer que, depois desse papel, reescrevi minha vida”, afirmou Santoro na última terça-feira (2) em São Paulo, onde aconteceu a pré-estreia mundial do filme. Dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (“O Procurado” e “Guardiões da Noite”), o novo “Ben-Hur” traz, além do brasileiro, Jack Huston no papel principal e Morgan Freeman.
Segundo os atores, não se trata de uma refilmagem do clássico de 1959 estrelado por Charlton Heston, mas de uma nova adaptação do romance “Uma História dos Tempos de Cristo”, escrito por Lew Wallace em 1880. A história do judeu que luta contra os romanos, paralelamente à trajetória de Jesus, trata de questões que seguem atuais, como preconceito, intolerância e conflitos religiosos. “É incrível que uma obra escrita há mais de um século soe contemporânea. É possível fazer analogias infinitas e, a partir disso, refletir sobre como lidar com isso”, diz Santoro.
Tempos violentos
Para o brasileiro, o Brasil e o mundo vivem “tempos muito ansiosos e violentos”. “‘Ben-Hur’ se passa em uma época em que era ‘ou eu, ou ele’. Hoje não é ‘nem eu, nem ele’. É uma violência que não conseguimos entender”, avalia. Nesse cenário, filmes como esse e outras adaptações religiosas (como “Os Dez Mandamentos”, campeão nacional de bilheteria em 2016) podem ser vistos como uma busca de alento. “Talvez as pessoas estejam se deparando com um vazio e estão buscando alguma forma de conforto.”
Segundo Santoro, a intenção em “Ben-Hur” foi retratar Jesus de forma mais humana. “A ideia era humanizá-lo o máximo possível, trazê-lo mais próximo das pessoas. Tanto que ele aparece mais dando exemplo do que pregando”, diz. Para isso, o ator buscou referências não só na Bíblia, mas também em livros e pinturas.
E como a representação de um personagem como Jesus Cristo poderia contribuir para essa reflexão? “O mais difícil é pegar aqueles ensinamentos e aplicá-los na prática, no dia-a-dia. A chave para a evolução são as pessoas à nossa volta, então, se o filme ajudar as pessoas a enxergarem isso, está ótimo”.
Durante a entrevista coletiva, Santoro chegou a chorar ao relembrar a filmagem da cena da crucificação. Uma das maiores dificuldades, no entanto, foi o frio que fazia no local, nos célebres estúdios Cinecittà, na Itália. “Nevou na noite anterior, estava tão frio que em determinado momento eu já estava fora de mim”, brincou o ator.
“J.J. Abrams é um visionário”
Depois de “Ben-Hur”, a próxima aparição de Rodrigo Santoro nas telas também está cercada de expectativa. Ele está em “Westworld”, série da HBO produzida por J.J. Abrams que estreia no dia 2 de outubro. O brasileiro irá viver o pistoleiro Harlan Bell, um dos personagens de um parque de diversões para adultos onde os brinquedos começam a ganhar vida. No elenco, estão Anthony Hopkins, Ed Harris e Evan Rachel Wood.
Santoro já havia trabalhado com Abrams em “Lost”, mas dessa vez teve contato mais direto com o produtor, a quem classifica como “um visionário”. “Ele é um dos caras mais impressionantes que já conheci, uma pessoa extremamente inteligente, que está sempre presente no set, participando e dando ideias. Se houver oportunidade, quero trabalhar com ele em outros projetos”, revela.
A estreia do brasileiro em Hollywood aconteceu há 13 anos, com um papel sem falas em “As Panteras: Detonando”. De lá para cá, ele não só foi consolidando a carreira internacional, como também viu as portas se abrirem cada vez mais para atores latinos. “Ainda existem estereótipos na hora de retratar os personagens, mas nunca sofri preconceito. Sempre fui muito bem tratado”, garante.
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Editor responsável: Jones ROssi |
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