O cineasta M. Night Shyamalan disse ter colocado dinheiro do próprio bolso na produção de “Fragmentado”, seu 13º longa-metragem, que estreou nesta quinta-feira (23) nos cinemas brasileiros.
Um bom negócio. Antes de estrar fora dos circuitos europeu e americano, o filme feito com US$ 9 milhões (baixo orçamento em Hollywood) já rendeu mais de US$ 250 milhões.
É a segunda aposta certeira do cineasta. Seu penúltimo projeto, “A Visita (2015)”, já tinha rendido um lucro muitas vezes maior do que ele e seus produtores associados investiram.
Fragmentado, porém, tem sido considerado por parte da crítica e dos fãs como uma volta por cima artística na carreira do diretor. Quando Shyamalan apareceu, há duas décadas, foi saudado como o mais inovador cineasta a surgir em Hollywood desde que a geração sexo, drogas e rock’ n roll (leia-se Lucas, Spielberg, Scorsese e Coppola) salvou o cinema.
Se o cinema autoral de Shyamalan foi seu cartão de visita na indústria do cinema, sua falta de apego aos padrão também lhe causou problemas quando vários de seus projetos falharam na década de 2000.
Durante entrevista coletiva na última terça-feira (21) em São Paulo, Shyamalan disse que a razão do desequilíbrio em sua carreira nasce de sua integridade como roteirista. “Isto acontece porque eu escrevo os filmes. Quem escreve precisa ser honesto com o lugar onde está”, diz.
Seus primeiros longas como “O Sexto Sentido” (1999) e “Corpo Fechado” (2000) foram criados quando ele tinha menos de trinta anos e não tinha filhos. “Quando meus filhos eram pequenos, fiquei bobo com eles, cantando canções infantis e chorando em comerciais. Então escrevi filmes bem sentimentais”, explica.
O antigo menino prodígio que fracassou pesado parece ter reencontrado o seu caminho.
“Acho que precisa ser assim ou então você é um mentiroso como escritor. Se eu não fosse o roteirista, eu poderia ser mais calculista em relação aos meus filmes. Mas agora meus filhos cresceram e eu estou podendo mostrar meu lado escuro de novo”.
Filme B
“Fragmentado” é a história de um homem (James McAvoy) que tem Transtorno Dissociativo de Identidade e em seu corpo vivem 23 personalidades diferentes.
Com estética de filme B, o filme tem poucos personagens e cenários. A ideia de filme B entusiasma o diretor, que admite a inspiração. “Quando penso na criação do filme, minha ideia é um espaço sem janela. Não uso aventuras espaciais e naves. Espaços confinados são as coisas que estimulam a minha imaginação”.
Como seus grandes sucessos do início da carreira, o filme caminha entre o terror psicológico e o sobrenatural. Shyamalan disse que escreveu o roteiro com a filmografia de David Lynch em cima da mesa, para pegar o universo sombrio “por osmose”.
“Um pintor tem que atentar para a moldura do quadro. A Universal emoldurou como um drama psicológico que evolui para um suspense aterrador. As pessoas me perguntam: ‘Será que é um filme de terror?’, mas o que pesa para mim é o suspense psicológico”.
Nascido na Índia, Night mora da Filadélfia desde criança e diz que nunca quis se transferir para Los Angeles. Novamente, ele usa a integridade para explicar sua razão. “Me sinto melhor lá e a cidade me envolve. Em Los Angeles não conseguiria trabalhar”.
O jornalista viajou à convite da Universal Pictures.
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