(aviso: contém “spoilers”)
Escrevo este texto aqui agora não para reclamar da decisão da Disney de matar quase todos os personagens interessantes de “Rogue One: uma História Star Wars”, mas sim elogiá-la – sobretudo porque há relatos e indicações de que o emocionante terceiro ato de “Rogue One” poderia muito bem ter sido bastante diferente.
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Um dos aspectos mais comentados do novo filme de Star Wars nas redes sociais foi a escolha de matar todo o seu novo bando de heróis, incluindo a heroína rebelde Jyn Erso (Felicity Jones) e o capitão Cassian Andor (Diego Luna). No clímax do filme, poderíamos manter as esperanças de que ele pouparia pelo menos alguns dos nossos novos personagens favoritos da Aliança Rebelde, mas não, até mesmo K-2SO, o novo androide sarcástico, acaba sendo destruído num gesto leal de sacrifício.
Nisso, “Rogue One” é comparável a “O Resgate do Soldado Ryan” ou “Fugindo do Inferno”, mas com um destino ainda mais cruel. Até mesmo “Os Sete Samurais” – uma das principais influências para Lucas – permitiu que alguns dos seus guerreiros sobrevivessem. E essa possibilidade de deixar sobreviventes bem que estava na cabeça do diretor Gareth Edwards e seus roteiristas.
Edwards contou ao podcast Empire Film que, na primeira versão do roteiro, nem todos os personagens principais morriam, mas então os cineastas se perguntaram: “Eles precisam morrer, não é mesmo?”
“Nós imaginávamos que não podíamos (matar o elenco) e que não deixariam que fizéssemos isso”, disse Edwards ao Empire.
Mas, no fim, a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, concordou que esse final faria sentido, segundo o Empire.
E houve também os trabalhos extensos de refilmagem, que trouxeram à tona rumores quanto à possibilidade de o filme virar uma salada narrativa e que Edwards, que ainda tinha pouca experiência como diretor, teria perdido o jeito.
Decisão correta
Ao rever os trailers agora, fica claro que Edwards não apenas deixou muitas cenas de fora, mas sequências inteiras também. Nas primeiras versões, por exemplo, podemos ver Jynn correndo pela praia de Scarif e dentro da torre imperial, carregando os planos da Estrela da Morte. Mas é claro que, no corte final, nenhuma dessas cenas aparece – o que significa que o último ato inteiro foi claramente alterado nas etapas finais de produção.
Mas Edwards e a Disney/Lucasfilm tomaram a decisão correta. O gesto dos heróis de se voluntariarem para essa missão não oficial – o sentimento de propósitos mais elevados que ele fornece a cada um dos novos personagens principais – cresce em importância e ressonância, dado o seu sacrifício final. Eles têm sua bravura especialmente enobrecida pela morte.
E, afinal, por que ter um filme separado, à parte da série principal e servindo de prólogo para o primeiro “Star Wars”, se não for para arriscar narrativas mais ousadas? A brutalidade do ato final ajuda esta série dos filmes “antológicos” que foi lançada agora a transmitir um sentimento não apenas de relevância, mas também de uma beleza crucial.
*Michael Cavna é escritor, artista e cartunista, criador da coluna “Comic Riffs” e resenhista de quadrinhos para a seção de livros do The Washington Post. Aprecia a sátira bem feita em quase todas as formas.
Tradução: Adriano Scandolara