Há um filme feito para os fãs de “Star Wars” que finalmente responde a várias das perguntas que há muito eles vêm fazendo, explorando tanto a elasticidade de uma franquia que já sofreu sua cota de desgastes ao longo dos seus 40 anos, quanto o talento de artistas dotados de visões novas e talvez iconoclásticas, bem como sua capacidade de trazer histórias que aconteceram há muito tempo numa galáxia distante para um novo e audacioso futuro.
Esse filme é “Star Wars: Episódio VIII” e chegará aos cinemas dentro de mais ou menos um ano agora.
Nesse meio tempo, temos “Rogue One: uma História Star Wars”, dirigido por Gareth Edwards, para matar o tempo, um serviço que ele cumpre com perfeição, ainda que de uma forma meio indistinta. O filme, tecnicamente, não precisava existir, não fosse a necessidade de agradar os fãs, arrecadar um dinheiro fácil e manter o público interessado numa época em que a sua atenção salta de um espetáculo de ficção científica para outro, com uma promiscuidade descarada. Tantas das imagens de “Rogue One” conjuram filmes recentes – de “Mad Max: Estrada da Fúria” até “A Chegada” – que é fácil esquecer que foi o primeiro filme da série, lá em 1977, que deu início a tudo.
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Para darmos os devidos créditos a “Rogue One”, o filme, assim como “O Despertar da Força” que saiu no ano passado, presta muito bem as suas homenagens ao mundo imaginativo criado por George Lucas e seus colaboradores quatro décadas atrás. Esculpido a partir da mesma estética de “futuro velho” que Lucas havia aperfeiçoado com tanta aptidão, ele tem o mesmo verniz sujo e desgastado que remete aos clássicos de guerra da época da Segunda Guerra Mundial e Guerra do Vietnã, combinado com floreios visuais que lembram videogames. Ele se encaixa muito bem dentro de toda a mitologia de “Star Wars”, sobretudo quando chega o seu emocionante terceiro ato, culminando num momento final imensamente satisfatório.
O que “Rogue One” não tem muito é alegria, apesar que aí não dá para dizer que os espectadores já não estavam avisados. Edwards e os executivos da Disney alardearam bastante o fato de que queriam que essa história separada fosse mais “sombria”, e eles não estavam brincando: para um filme “Star Wars”, ele tem o maior número de mortes de todos, indo muito além dos Stormtroopers imperiais de sempre (e, como de costume, podemos esperar que pelo menos um deles por filme caia com um efeito sonoro de “Wilhelm scream”).
Esse e outros elementos reconfortantes de familiaridade estão presentes e muito bem vivos em “Rogue One”, que se centra na história de Jyn (Felicity Jones), uma jovem levada pelas circunstâncias a servir a uma ala militante da Aliança Rebelde, fazendo trabalhos cruciais de espionagem contra o tirânico Império Galáctico, que está em vias de inventar uma super-arma chamada de Estrela da Morte.
E, já que estamos tratando de “Star Wars”, podemos saber de cara que o trabalho de Jyn acabará envolvendo algum tipo de equipe mista de figuras desajustadas, porém cheias de coragem. Em “Rogue One”, esse bando consiste em um oficial de inteligência dos rebeldes, chamado Cassian (Diego Luna), um ex-piloto imperial descontente chamado Bodhi (Riz Ahmed) e o androide sarcástico K-2SO. Dublado por Alan Tudyk, essa criatura singular, que se move com trejeitos de aranha, fornece momentos importantes de alívio cômico num filme que, fora esses momentos, é de um tom sério e pesado, conforme Jyn e seus colegas batalham contra o diabólico diretor do setor armamentista do Império, Orson Krennic (Ben Mendelsohn).
Contando com uma execução sólida da parte de Edwards, que já tem em seu currículo os filmes “Monstros” e “Godzilla”, “Rogue One” é, em todo caso, uma história bem típica, animada por efeitos visuais impressionantes e a trilha sonora comovente de Michael Giacchino, mas sem o tom caloroso e o senso de humor dos filmes anteriores. Ele não é um nenhum desastre, de modo algum comparável à trilogia mal concebida dos episódios I a III de Lucas. Ainda assim, fora os seus momentos finais, “Rogue One” não tem o ritmo agitado, nem a sensação extasiante de retorno que “O Despertar da Força” transmitiu com tanta leveza.
Felicity Jones em “Rogue One” faz uma heroína convincente, ainda que meio monótona com sua seriedade toda. Sua semelhança física assombrosa com Daisy Ridley, que faz o papel de Rey nos novos filmes da série, é um convite intrigante à especulação quanto à possibilidade e os modos pelos quais as duas poderiam ser parentes. Mas poucos dos seus colegas de elenco transmitem essa mesma impressão tão vívida, e Diego Luna, com seu jeito desprendido e de fala mansa, foi uma escolha particularmente equivocada para fazer um aventureiro de má reputação. O chinês Donnie Yen, como um guerreiro místico, acabou mal utilizado num papel que parece perfunctório e mal pensado.
“Rogue One” dá a impressão de, muitas vezes (até demais), estar só cumprindo o roteiro, marcando ponto por ponto a cartilha do enredo, que, no fim, gira em torno de uma busca por documentos, o fechamento de uma barreira e a localização de um botão mestre numa torre de controle de comunicações. É um material simplista, porém eficaz em suscitar uma ideia de ação e de que há muita coisa em jogo, ficando ainda mais agitado conforme “Rogue One” enfim chega à sua conclusão caótica e perturbadoramente apocalíptica (ao término de duas horas e 13 minutos, com pelo menos 15 minutos a mais do que deveria).
Agraciado com a primeira aparição – pelo menos no sentido cronológico – de alguns dos personagens mais icônicos da série “Star Wars”, “Rogue One” representa um exercício de extensão de franquia que deverá ser bem vindo. É bacana. Dá para o gasto. Por ora.
*Ann Hornaday é a principal crítica de cinema do The Washington Post.
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