Em filme dos diretores de “Intocáveis”, Omar Sy interpreta senegalês que vive na França.| Foto: Divulgação

Somente no primeiro trimestre deste ano, cerca de 57 mil imigrantes ilegais desembarcaram na Europa. Na França, especificamente, um quarto da população é originária de outros países. A respeito disso, surgem questões: as pessoas não têm o direito de buscar melhores condições de vida em outros lugares que não em seu próprio país? Até que ponto a condição de estrangeiro lhes impede de ter direitos básicos, inerentes ao desenvolvimento de uma estrutura fundamental de sobrevivência? Há de se tratar o imigrante de maneira invisível e culpabilizá-lo por questões totalmente independentes de sua presença e movimentação? Baseado no livro homônimo da francesa Delphine Coulin, o filme “Samba”, dos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano (de “Intocáveis”, sucesso de público), aborda justamente a condição de vida de um imigrante ilegal em Paris, cidade-símbolo da Europa.

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O senegalês Samba Cissé (Omar Sy) vive há dez anos na França trabalhando como lavador de pratos em restaurantes. Certo dia, numa batida policial no metrô, é preso e levado para um centro de detenção de imigrantes. Lá, conhece Alice (Charlotte Gainsbourg), voluntária de uma ONG que auxilia socialmente e juridicamente imigrantes ilegais. Logo depois é solto, mas com a obrigação de deixar o território francês.

A partir daí, Samba adota atitudes que o tornam menos suspeito e, de certa forma, o estereotipam como um natural homem europeu, incluindo ações e vestimentas que não levantam dúvidas sobre sua verdadeira origem – o personagem começa a usar sobretudo, sapatos e uma pasta de couro; e deixa de utilizar um anel, peça que remete ao Senegal. Uma forma de narrativa imposta pelos diretores para discutir o aniquilamento do restante da cultura de origem do imigrante em troca da adoção de um padrão que o eleve espontaneamente dentro da sociedade em que agora está inserido.

Apesar da mudança, ele ainda é constantemente vítima de olhares preconceituosos, seja no transporte público ou nos bicos que arranja. Mas jamais perde a esperança e a alegria. Ainda mais por ver sua relação com Alice se estreitar. Com um sorriso no rosto, é capaz de se divertir num trabalho aparentemente rijo e monótono ao brincar com os manequins em exposição.

“Samba” fala de sonho. Da batalha por realizá-lo. E principalmente do poder de alguns em destruí-lo.