Considerado o filme com maior potencial para desbancar “La La Land” no Oscar, cuja cerimônia acontece no próximo domingo (26), “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, longa de Barry Jenkins, que estreia no Brasil, conta uma história rara de ser vista no cinema. De quebra, traz feitos inéditos para uma obra de baixo orçamento, e prova o básico: talento, e não dinheiro, é capaz de encantar o espectador. Veja seis razões para não perder o filme:
1) Seria injusto reduzir “Moonlight” a um “filme gay” ou sobre “questões raciais”. É uma obra que junta vários dramas humanos para criar uma história simples, mas tematicamente complexa. No centro da trama, está Chiron, um garoto de um bairro em Miami tomado pela epidemia de crack - que afeta, inclusive, a sua mãe, viciada na droga. Ao mesmo tempo, o protagonista lida com as dúvidas inerentes à descoberta sexual. No fim, temos uma história de vida rara de ser vista no cinema, principalmente em Hollywood - ainda que seja tão comum no mundo real.
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2) “Moonlight” é uma proeza que surge depois de duas edições do Oscar criticadas pela falta de diversidade entre os indicados. De lá para cá, aumentou a pressão para que a indústria trouxesse à tona mais histórias sobre (e estreladas por) pessoas negras. O filme atende a essa demanda, ao mesmo tempo em que jamais poderia ser acusado de estar na premiação para “preencher cota” - uma expressão muito usada por quem acha uma baboseira a cobrança por mais diversidade entre os artistas concorrentes. “Moonlight” é um desses filmes cuja qualidade é dificilmente contestada: foi elogiado, às vezes com superlativos, pela maioria dos críticos, e também por espectadores e profissionais do meio. O ator, diretor e produtor Mark Duplass escreveu nesta semana uma carta aberta endereçada aos votantes da Academia em que pede uma vitória de “Moonlight”, argumentando que se trata “do melhor filme dos últimos dez anos” e de “um milagre” cinematográfico. “A triste verdade é que filmes como esse não são mais feitos. Ainda assim, ele existe. De alguma forma, foi feito.”
3) O orçamento de “Moonlight” é estimado em apenas US$ 1,5 milhão. O elenco precisou dividir um mesmo trailer para maquiagem e troca de figurino. Os atores e a equipe compartilharam o mesmo banheiro. Um drama indie de tão baixo orçamento ter chegado ao Oscar já impressiona, mas o fato de ter emplacado oito indicações (atrás apenas do líder, “La la land”, com 14) é uma façanha de cair o queixo. “Moonlight” é o lembrete de um princípio óbvio, mas que volta e meia precisa ser reforçado: talento, e não dinheiro, é a receita para uma obra encantar a plateia. O filme concorre em duas categorias técnicas: fotografia e montagem.
4) A primeira cena do longa mostra Juan (Mahershala Ali) fiscalizando um ponto de venda de drogas controlado por ele. Num primeiro momento, pode-se pensar que estamos prestes a ver um filme denúncia sobre tráfico e violência urbana. Já a última sequência é um longo e íntimo jantar em que o que está em jogo é a vida afetiva de dois homens. A diferença entre a abertura e o desfecho é um exemplo de como “Moonlight” não cai no óbvio, optando por tomar rumos inesperados ao longo de quase duas horas de projeção. Dividido em três atos, cada um retratando um momento chave da existência de Chiron, o roteiro, aos poucos, se transforma num atestado sobre a formação de identidade de um homem americano de baixa renda, homossexual e negro.
5) Uma das razões pelas quais a história é retratada com tanta propriedade é a familiaridade com que o diretor Barry Jenkins e o escritor Tarell Alvin McCraney - autor da peça “In moonlight black boys look blue”, no qual o roteiro se baseia - têm com a ambientação. Ambos cresceram no bairro de Liberty City, em Miami, onde o longa foi rodado. Também tiveram mães viciadas em drogas. Em outras palavras, o percurso do protagonista é contado, de maneira pessoal, por gente com empatia por sua trajetória - algo louvável e que costuma imprimir veracidade ao tratamento dos temas. Aqui vale uma curiosidade: as filmagens aconteceram numa das regiões mais pobres dos Estados Unidos, e a produção chegou a se preocupar com a provável falta de segurança. Quando os moradores descobriram que Jenkins tinha origem no bairro, tudo mudou. A equipe foi bem acolhida e recebeu apoio de todos - a atriz Naomi Harris, que interpreta a mãe do protagonista, afirmou nunca ter se sentido tão à vontade num set.
6) Este é o segundo filme da história do Oscar a ter pessoas negras indicadas, simultaneamente, nas categorias de melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e atriz coadjuvante (Naomie Harris). E mais: Barry Jenkins é o quarto diretor negro a concorrer em sua categoria (os outros foram John Singleton, por “Os donos da rua”; Lee Daniels, por “Preciosa: uma história de esperança”; e Steve McQueen, por “12 anos de escravidão”). Por fim, um feito inédito: Joi McMillon é a primeira mulher negra a disputar a estatueta de melhor montagem.
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