A experiência de se assistir a “Os Penetras 2 – Quem Dá Mais?” tem algo de existencialista. Porque ao longo dos 90 minutos da exibição o espectador se pergunta diversas vezes por que, afinal de contas, sua vida chegou a esse ponto. Que tipo de pecado cometeu para precisar expurgar o mal durante a hora e meia mais longa da sua vida. Quem tanto ofendeu em sua existência na Terra para ter que passar pelo calvário de assistir ao conjunto de piadas mais sem graça do cinema nacional nos últimos anos?
Com o objetivo de amenizar o trauma que pode ser assistir a “Os Penetras 2 – Quem dá Mais?”, listamos sete coisas horríveis melhores para se fazer em lugar disso. Afinal, como ensinam algumas sequências da história do cinema, nada é tão ruim que não possa piorar.
Vazar os próprios olhos e estourar os próprios tímpanos
A punição imposta por Édipo a si mesmo ao descobrir que Jocasta, sua esposa, também era sua mãe, é pouca comparada à dor de assistir ao que Eduardo Sterblitch faz em “Os Penetras 2”. Chamar sua presença no filme de “interpretação” de um personagem seria subverter o significado da palavra. Sterblitch dá um show de gritaria, faniquito e histrionismo ao dar vida novamente a Beto, um personagem que sofre de transtorno mental e que claramente precisa de ajuda médica. Chega a ser uma zombaria com quem vive nessa condição. Não que seja incomum o cinema fazer comédia com isso. Mas a atuação de Sterblitch no filme é vergonhosa e irritante.
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Topar com o dedinho do pé na quina da cama
Marcelo Adnet já foi uma grande promessa da comédia brasileira. Não que lhe falte talento, mas sem preparação e direção adequadas, ele se torna um grande canastrão. É o que sobra para ele em “Os Penetras 2”. Esqueça o Adnet das boas sacadas de “Tá no Ar” ou da homenagem que faz a Rogério Cardoso ao reviver Rolando Lero na nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”. Ele não tem qualquer química com Eduardo Sterblitch nas telas. Topar propositadamente o dedinho do pé na quina da cama é menos doloroso do que assistir ao trabalho de Adnet em “Os Penetras 2”.
Privar-se de sono por mais de 72 horas
Quer atrair público jovem para um filme? Que tal escalar a participação dos mais populares youtubers do momento? “Os Penetras 2” tem a presença de PC Siqueira, Maju Trindade e Whindersson Nunes, numa vexatória e dispensável cena em um hospício. Eles praticamente não dizem nada e a cena não faz qualquer diferença no andamento da história, mas pelo menos eles aparecem. Para quem é fã das estrelas da internet, melhor gastar uma semana sem dormir em maratonas de vídeos do que esperar para vê-los em “Os Penetras 2”.
Escutar a discografia completa do Vientosur com o volume estourando
As atuações de Sterblitch e Adnet são um grande problema, mas o maior defeito de “Os Penetras 2” está no roteiro. O argumento do filme é muito fraco, para dizer pouco. O próprio diretor Andrucha Waddington admitiu que, com as filmagens marcadas, precisaram acelerar a criação do roteiro. A história é cheia de pontas soltas e nenhum personagem parece ter uma motivação clara. No fim, há mais diversão em escutar versões em flauta de bambu dos grandes clássicos da música internacional pelo conjunto latino Vientosur.
Oferecer-se para fazer o imposto de renda da família inteira
O Leão costuma cobrar suas contas normalmente em março, mas por que não se voluntariar para fazer as declarações da família toda desde já? Melhor isso do que qualquer uma das piadas de “Os Penetras 2”. A começar pelo subtítulo: “quem dá mais?” que indica a enxurrada de trocadilhos de duplo sentido nos diálogos. A comédia de “Os Penetras 2” se resume a esse tipo de tirada e ao elenco de atores globais falando palavrão, muito palavrão. Um tiozão de churrasco inspirado faria melhor.
Gerar e fomentar uma discussão polêmica na internet
A trama de “Os Penetras 2 – Quem dá Mais?” envolve o plano de roubar um membro da máfia russa que está no Rio de Janeiro. O personagem é vivido por Mikhail Bronnikov, um ator russo sem qualquer experiência de atuação, o que torna ainda mais difícil a experiência de se assistir o filme. Outro que não colabora é Danton Mello, que interpreta Santiago, o novo golpista da turma, que se parece com quase todos os personagens de Danton nas novelas. Assim, as melhores presenças acabam sendo de Mariana Ximenes – mais devido à sua figura estonteante, digna das grandes estrelas do cinema – e Stepan Nercessian, crível como o bonachão Nelson. De resto, mais vale criar uma polêmica vazia na internet e ficar alimentando os trolls.
Eleger-se síndico de vários prédios diferentes do seu próprio
Se sua vida está muito fácil, que tal se tornar síndico não apenas do seu próprio prédio, mas de vários outros? Infinitas reuniões de condomínio seriam mais divertidas do que assistir a “Os Penetras 2”. O que nos leva ao questionamento: por que o diretor Andrucha Waddington, que construiu uma boa reputação por filmes como “Eu, Tu, Eles e Casa de Areia”, fez um filme como esse? O primeiro “Os Penetras” foi assistido por mais de 2,5 milhões de pessoas, então é de se imaginar que uma das razões seria o sucesso comercial. Nada errado quanto a isso, mas será que os realizadores realmente acreditaram que este produto é bom o suficiente para agradar o público? Não merecíamos algo um pouco menos vazio e descartável?