Acostumado a esmiuçar a hipocrisia dos costumes da classe média francesa e suas transgressões inibidas, o diretor François Ozon chega a um novo patamar em “Uma Nova Amiga”. Em seu novo longa, ele traça um melodrama, que evolui para um suspense psicológico à Hitchcock, envolvendo o espectador em uma virtuosa tensão sexual almodovariana.
O roteiro, assinado pelo cineasta, é livremente adaptado do conto homônimo da escritora Ruth Rendell (falecida em maio deste ano). Celebrada autora inglesa de romances policiais, seus livros já foram fonte de inspiração para grandes diretores, como Claude Chabrol (“Mulheres Diabólicas”, 1995), Claude Miller (“Betty Fisher e Outras Histórias”, 2001), além de Pedro Almodóvar, em um dos seus maiores sucessos, “Carne Trêmula” (1997).
O diretor francês, que nunca negou sua predileção pela tradição inglesa de livros policiais em detrimento da literatura francesa, faz uma versão da história ao seu estilo. Assim dá atenção à personagem Claire (a excelente Anaïs Demoustier), cuja melhor amiga, Laura (Isild Le Besco) morre tragicamente, deixando David (Romain Duris) viúvo com um filho recém-nascido. Ozon faz um resumido no prólogo, em que mostra a relação entre ambas, desde a infância, que culmina em uma promessa agonizante: ela deve ajudar David em sua perda.
Com a própria dor para resolver, ela é instigada pelo marido Gilles (Raphaël Personnaz) a procurar o viúvo. Porém, quando chega na casa de David sem avisar, se depara com uma loura, vestida e maquiada, acalmando o bebê. A figura que a cumprimenta não é outra senão o próprio rapaz, que entre pânico e sensibilidade, defende sua transcendência aos estereótipos de gênero.
Contar mais que isso seria um grande “spoiler”, pois é nesse momento que Ozon dá início à ação.
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