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52 anos de cinema. 79 de  vida. 38 na “conta das  realizações. Poeta aos 58.   Sylvio Back quer viver até os 150 para completar sua obra. | Ilustração de Felipe Lima
52 anos de cinema. 79 de vida. 38 na “conta das realizações. Poeta aos 58. Sylvio Back quer viver até os 150 para completar sua obra.| Foto: Ilustração de Felipe Lima

Em sua contabilidade biográfica particular, o cineasta Sylvio Back está comemorando 38 anos de vida. “Há algum tempo, resolvi só comemorar aniversário quando estivesse com obra concluída”, brinca.

O lançamento em DVD de seu último longa, o documentário “O Universo Graciliano”, finalizado em 2014, ao lado de duas caixas de filmes com seus outros onze longas é a realização da vez.

A coleção “Cinemateca Sylvio Back Vol I e II” lançada pela distribuidora Versátil é um panorama da carreira de Back como diretor de longas-metragens, iniciada em 1968 com o hoje clássico “Lance Maior”.

O filme mostra o triângulo amoroso, entre os jovens Reginaldo Farias, Regina Duarte e Irene Stefânia tendo como cenário Curitiba e Antonina, fotografadas em preto e branco. As locações no prédio da Reitoria, na piscina do Country Club ou na praça 29 de março são imagens icônicas do cinema de Back.

O longa foi lançado no Festival de Brasília, no ano de seu lançamento. Lá, o diretor convidou o público a assistir novamente o filme dali a cinquenta anos depois. Back se surpreende de quão próximo está este dia.

“Meio século é um tempo muito curto para carimbar sobre¬vida de uma obra de arte”, avalia. Basta, no entanto, para medir a influencia da obra. Seu filme deflagrou um movimento na cinematografia paranaense. Para Back gerou uma “prole” de cineastas e documentaristas (incluindo seus dois assistentes Sérgio Bianchi e Joel Pizzini) que mais tarde “tiraram da solidão o primeiro filme que cravou Curitiba (e o Paraná) na história e no mapa e cinematográficos do país”.

O drama romântico da estreia, porém era uma pista falsa sobre a trajetória futura do cinema de Back.

A sequência de sua carreira mostrou um cineasta preocupado com outros temas. Em longas de ficção como “Aleluia, Gretchen” (1976) e “A Guerra dos Pelados” (1971) ou nos “docudramas”, (como prefere chamar) Yndio do Brasil (1995), ou Contestado - Restos Mortais (2010), Back mira uma lente iconoclasta na história do país, na questão do imigrante num espaço hostil a sua presença e na guerra.

Na maior parte de seus filmes, ficção e realidade se misturam. Para Back, um documentário não pode levar o espectador pela mão. “Sinto enorme prazer em deixar a plateia órfã, sem corrimão de qualquer natureza política, ideológica ou moral”.

Na história do cinema nacional, Back é notório por montar equipes e lançar talentos. “O cinema, ainda que o diretor assine o filme, é obra coletiva. Quase todo filme de ficção, por menor que seja a produção, envolve entre 200 e 300 pessoas, incluindo o projecionista, que faz parte do espetáculo”.

Ainda que tenha “por estilo dirigir à base do cochicho”, sem levantar a voz durante a filmagem, o cineasta lembra que já entrou em combustão com atores, atrizes e técnicos.“Dirigir um espetáculo é uma permanente administração de egos, a começar pelo próprio...”

É também famoso pelo esmero técnico de seus filmes. “Sinceramente, não sei se faço bons filmes, mas sou perfeccionista: a qualidade de imagem e som é grife incontornável, da qual jamais abro a mão”.

Conexão

Nascido em Blumenau, Santa Catarina, em 1937, Back vive há trinta anos de Rio de Janeiro, na praia de Ipanema. O mesmo período de tempo em que morou em Curitiba (dos anos 1956 a 1986), depois da adolescência em Antonina e Paranaguá. Nascido em Blumenau, Santa Catarina, é filho de pai judeu húngaro e mãe alemã.

Sua “conexão existencial e cultural com Curitiba” será o tema de seu próximo filme. Mais um docudrama, batizado de “Véu de Curityba”, em que Back promete criar “interlocução mágica entre o presente e o retrato falado, musical, emotivo e memorial que a cidade alguma vez lançou sobre si mesma”. O filme está à espera do incentivo fiscal para que as filmagens comecem.

Escolado pelas dificuldades de fazer cinema no Brasil, Back tem um mantra: “É preciso viver cento e cinquenta anos para formatar uma obra no Brasil tantos os percalços entre um filme e outro”.

Enquanto o novo filme não nasce, ele se dedica a luta pela remuneração do direito autoral ao diretor audiovisual. “O nosso talento não pode continuar disponibilizado, veiculado ou consumido, graciosamente. Ou seja, surrupiado”.

E também a escrever. Já tem nove livros publicados, principalmente de poesia erótica. “Nasci poeta já maduro, aos 58 anos. O poema é que escolhe seu autor, assim, senti-me eleito após décadas voraz leitor de poesia, jamais ousando um verso sequer”.

Back, porém, não vê a hora de voltar a cochichar no set de filmagens. “Nada mais nos resta do que resistir, filmando!”

Sylvio Back por ele mesmo

Cineasta analisa quatro filmes importantes de sua cinematografia

Lance Maior (1968)

Com Reginaldo Faria, Regina Duarte e Irene Stefania

“Talvez por estar desalinhado ao discurso cinematográfico de seu tempo, talvez por adivinhação da década sangrenta engatilhada pelo AI-5, ainda exala uma inocência de linguagem e autoria irrepetíveis no meu cinema. Quem sabe aí se escondam os germes que lhe adiam a morte e o esquecimento?”

A Guerra dos Pelados (1971)

Com Átila Iório, Jofre Soares e Stênio Garcia

“A ainda mal conhecida Guerra do Contestado (1912-1916) está completando o centenário do seu sangrento epílogo. É flagrante o quão submersos, ignorados, omitidos, distorcidos e minimizados permanecem os fatos e atos dessa verdadeira guerra civil no hinterland de Santa Catarina e do Paraná.”

Aleluia, Gretchen (1976)

Com Carlos Vereza, Lílian Lemmertz , Miriam Pires e Sérgio Hingst

“O filme é um acerto de contas com minhas origens europeias, filho de imigrantes fugindo da Alemanha nazista, ainda que seu enredo e atualização (na última sequencia surge a palavra ’Hoje’) contrabandeassem inequívoca metáfora da ditadura Geisel que atravessávamos.”

O Contestado – Restos Mortais ( 2010)

Documentário

“Ao longo de semanas, viajamos o perímetro bélico do Contestado (centro-oeste de Santa Catarina), onde ocorreram massacres em massa. Ali, filmamos mais de cinquenta médiuns em transe. Assim, frequentei poeticamente o pretérito através do resgate mágico de personagens que poderiam ter existido.”

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