Em sua contabilidade biográfica particular, o cineasta Sylvio Back está comemorando 38 anos de vida. “Há algum tempo, resolvi só comemorar aniversário quando estivesse com obra concluída”, brinca.
O lançamento em DVD de seu último longa, o documentário “O Universo Graciliano”, finalizado em 2014, ao lado de duas caixas de filmes com seus outros onze longas é a realização da vez.
A coleção “Cinemateca Sylvio Back Vol I e II” lançada pela distribuidora Versátil é um panorama da carreira de Back como diretor de longas-metragens, iniciada em 1968 com o hoje clássico “Lance Maior”.
O filme mostra o triângulo amoroso, entre os jovens Reginaldo Farias, Regina Duarte e Irene Stefânia tendo como cenário Curitiba e Antonina, fotografadas em preto e branco. As locações no prédio da Reitoria, na piscina do Country Club ou na praça 29 de março são imagens icônicas do cinema de Back.
O longa foi lançado no Festival de Brasília, no ano de seu lançamento. Lá, o diretor convidou o público a assistir novamente o filme dali a cinquenta anos depois. Back se surpreende de quão próximo está este dia.
“Meio século é um tempo muito curto para carimbar sobre¬vida de uma obra de arte”, avalia. Basta, no entanto, para medir a influencia da obra. Seu filme deflagrou um movimento na cinematografia paranaense. Para Back gerou uma “prole” de cineastas e documentaristas (incluindo seus dois assistentes Sérgio Bianchi e Joel Pizzini) que mais tarde “tiraram da solidão o primeiro filme que cravou Curitiba (e o Paraná) na história e no mapa e cinematográficos do país”.
O drama romântico da estreia, porém era uma pista falsa sobre a trajetória futura do cinema de Back.
A sequência de sua carreira mostrou um cineasta preocupado com outros temas. Em longas de ficção como “Aleluia, Gretchen” (1976) e “A Guerra dos Pelados” (1971) ou nos “docudramas”, (como prefere chamar) Yndio do Brasil (1995), ou Contestado - Restos Mortais (2010), Back mira uma lente iconoclasta na história do país, na questão do imigrante num espaço hostil a sua presença e na guerra.
Na maior parte de seus filmes, ficção e realidade se misturam. Para Back, um documentário não pode levar o espectador pela mão. “Sinto enorme prazer em deixar a plateia órfã, sem corrimão de qualquer natureza política, ideológica ou moral”.
Na história do cinema nacional, Back é notório por montar equipes e lançar talentos. “O cinema, ainda que o diretor assine o filme, é obra coletiva. Quase todo filme de ficção, por menor que seja a produção, envolve entre 200 e 300 pessoas, incluindo o projecionista, que faz parte do espetáculo”.
Ainda que tenha “por estilo dirigir à base do cochicho”, sem levantar a voz durante a filmagem, o cineasta lembra que já entrou em combustão com atores, atrizes e técnicos.“Dirigir um espetáculo é uma permanente administração de egos, a começar pelo próprio...”
É também famoso pelo esmero técnico de seus filmes. “Sinceramente, não sei se faço bons filmes, mas sou perfeccionista: a qualidade de imagem e som é grife incontornável, da qual jamais abro a mão”.
Conexão
Nascido em Blumenau, Santa Catarina, em 1937, Back vive há trinta anos de Rio de Janeiro, na praia de Ipanema. O mesmo período de tempo em que morou em Curitiba (dos anos 1956 a 1986), depois da adolescência em Antonina e Paranaguá. Nascido em Blumenau, Santa Catarina, é filho de pai judeu húngaro e mãe alemã.
Sua “conexão existencial e cultural com Curitiba” será o tema de seu próximo filme. Mais um docudrama, batizado de “Véu de Curityba”, em que Back promete criar “interlocução mágica entre o presente e o retrato falado, musical, emotivo e memorial que a cidade alguma vez lançou sobre si mesma”. O filme está à espera do incentivo fiscal para que as filmagens comecem.
Escolado pelas dificuldades de fazer cinema no Brasil, Back tem um mantra: “É preciso viver cento e cinquenta anos para formatar uma obra no Brasil tantos os percalços entre um filme e outro”.
Enquanto o novo filme não nasce, ele se dedica a luta pela remuneração do direito autoral ao diretor audiovisual. “O nosso talento não pode continuar disponibilizado, veiculado ou consumido, graciosamente. Ou seja, surrupiado”.
E também a escrever. Já tem nove livros publicados, principalmente de poesia erótica. “Nasci poeta já maduro, aos 58 anos. O poema é que escolhe seu autor, assim, senti-me eleito após décadas voraz leitor de poesia, jamais ousando um verso sequer”.
Back, porém, não vê a hora de voltar a cochichar no set de filmagens. “Nada mais nos resta do que resistir, filmando!”
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