Num primeiro momento, o mote de “The Valley” (2014), filme dirigido pelo senegalês Ghassan Salhab e exibido no Festival Olhar de Cinema, não exprime o contexto em que está inserido. O conflito entre sírios e libaneses em Beirute, no Líbano, fica em segundo plano. A estrutura histórica é desafixada e o que temos é um enredo que trata da memória.
Um homem perde o controle do carro e sofre um acidente numa região cercada por montanhas. Ferido, caminha por uma estrada deserta até encontrar duas mulheres sentadas e dois homens tentando desenguiçar um automóvel. Por fim, os ajuda a consertá-lo e desmaia. É levado, então, até uma grande fazenda no Vale do Beqaa -- região caracterizada pela agricultura, há 30km de Beirute --, onde funciona um laboratório de produção de drogas.
Sem poder sair, o “anjo” – nome dado pelos moradores do lugar por tê-los socorrido-- aparentemente não consegue lembrar-se de nada. Sua única memória manifesta está numa música abstrata. A letra remete a algum momento alegre.
É a partir daí que o diretor convida o espectador a uma análise de resgate da memória do personagem. Takes frontais, com o olhar fixo do sujeito sem identidade encontrando os da plateia, fazem-nos tentar buscar a reestruturação de suas lembranças. Mas em vão. Estamos tão perdidos quanto ele parece estar. De certo, temos somente que algo o incomoda e perturba.
Ao tentar fugir da fazenda, começa a ter sua aparente falta de memória posta em dúvida pelo grupo, que passa a vê-lo como possível ameaça tanto ao negócio quanto à segurança deles mesmos. Afinal, sua identidade ainda permanece desconhecida.
A perda da memória como instrumento de fuga de algum acontecimento é utilizada pelo cineasta como mecanismo para dar seguimento à narrativa sem que ela perca sua composição.
“The Valley” é um longa escuro, árido e pouco esclarecedor durante quase todos os seus 134 minutos. Ao final e de supetão, revela-se surpreendente. Como são os filmes que não deixam esquecer.
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