Cena de “Um suburbano sortudo”, com Rodrigo Sant’Anna.| Foto: Divulgação

Denílson (Rodrigo Sant’anna), um camelô malandro do subúrbio do Rio de Janeiro, descobre que é filho e único herdeiro do falecido Damião (Stepan Nercessian), dono milionário de uma importante rede de lojas populares.

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Aqueles que anteriormente se acreditavam herdeiros (filho e mulher oficiais e a amante) começam a tentar enganá-lo, visando colocar a mão na herança. Sentem-se mais dignos de recebê-la.

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Sofie (Carol Castro), a filha da amante, é a única que busca entender a vontade derradeira daquele que chama de pai de criação. Denílson se apaixona por ela, iniciando uma história de amor impossível, ou quase.

Essa é a trama de “Um Suburbano Sortudo”, um típico filme de fórmula, com piadas escatológicas, viradas forçadas e boa dose de cinismo.

Mas há uma surpresa: a constatação de que este novo filme de Roberto Santucci, que recentemente nos brindou com o execrável “Até Que a Sorte nos Separe 3”, não é tão ruim como se esperava.

Isso porque há uma evidente inspiração em Jerry Lewis, em sua figura cômica e crítica, e no modo como seus personagens se inserem em contextos desfavoráveis e conseguem virar o jogo.

A maior semelhança é com “Errado Pra Cachorro” (Frank Tashlin, 1963), em que Lewis vai trabalhar numa loja de departamentos e acaba expondo o preconceito de classe na sociedade americana.

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Evidentemente, os talentos de Tashlin e Lewis são fora do comum. Tão distantes da média dos diretores da comédia popular brasileira que a menção de seus nomes neste texto pode ser uma afronta aos deuses cinematográficos.

Mas é necessário dizer que se “Um Suburbano Sortudo” conseguiu escapar da cotação mínima é justamente por tentar imitar, mesmo a despeito de limitações e da irregularidade inerente a simples mortais, um gênio da comédia.

Graças a essa tentativa, temos alguns aspectos interessantes. Como a cena em que o filho almofadinha do magnata morto afirma que a inflação está voltando e que é hora de lucrar. Se algo der errado, coloque-se a culpa no governo e na crise.

Vemos também o questionamento da pose dos bem nascidos. Estes, despreparados para a ascensão das classes baixas, ficam escandalizados com a franqueza cheia de marra de Denílson.

Isso tudo, vale lembrar, num produto Globo Filmes. O espírito do programa “Tá no Ar”, de Marcius Melhem e Marcelo Adnet, parece estar fazendo bem ao poderoso grupo. Mais um pouco e podemos até ter uma boa comédia dentro dos padrões globais de entretenimento.

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E Sant’anna, que interpreta diversos personagens, como Eddie Murphy (e o próprio Jerry Lewis), arrisca-se tanto num tipo de humor à beira do intragável que até consegue um momento ou outro de graça.

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