Na cena de batalha que é o clímax de “Rogue One: Uma História Star Wars” basicamente todo mundo tem uma arma de fogo. Os rebeldes se esquivando de raios laser inimigos na areia. Os stormtroopers emergindo da água em sua armadura branca reluzente. Os walkers de pernas compridas derrubando palmeiras.
Não há um único sabre-de-luz à vista em qualquer lugar. O diretor Gareth Edwards explicou suas escolhas de armas dizendo que os eventos ocorrem antes da compreensão da Força no universo da história.
Mas as armas de fogo onipresentes no mais recente filme de Star Wars também refletem uma tendência em Hollywood ao longo dos últimos 30 anos de aumento da violência com armas de fogo em filmes de ação de super-herói/fantasia/história em quadrinhos voltados para crianças e adolescentes – uma mudança que criou confusão a respeito do que diferencia um filme com classificação indicativa para 13 anos como “Rogue One” de um para 17 anos. Pense em personagens como Batman, os Vingadores, X-Men e Transformers.
Na verdade, de acordo com uma nova análise, a quantidade de violência com armas de fogo nos 30 filmes indicados para 13 anos com maior bilheteria atualmente excede aquela nos filmes correspondentes para 17 anos. E continua a subir.
O estudo, publicado semana passada na revista científica Pediatrics, é a atualização de uma pesquisa que saiu em 2013 e fez manchetes com sua descoberta de que a prevalência de violência com armas de fogo nos filmes indicados para 13 anos líderes de bilheteria tinha mais do que triplicado desde que o sistema de classificação indicativa foi introduzido em meados da década de 1980.
“ [Pediatras] deveriam considerar aconselhar pais a serem cautelosos em expor seus filhos à violência com armas de fogo em filmes indicados para 13 anos”
A nova análise, diz um dos autores do estudo Dan Romer, diretor de pesquisa do Centro Annenberg para Políticas Públicas da Universidade da Pensilvânia, sugere que “Hollywood continua a recorrer à violência com armas de fogo como um aspecto proeminente em seus altamente populares filmes orientados para ação indicados para 13 anos.
A pesquisa de Romer é importante porque, enquanto a ligação entre assistir violência na tela grande (ou na TV ou em videogames) e violência no mundo real não é bem compreendida, há evidência de que tais cenas podem contribuir de maneira geral para comportamentos agressivos e dessensibilização para violência. Até que saibamos mais, Romer e seus coautores escrevem, pediatras “deveriam considerar aconselhar pais a serem cautelosos em expor seus filhos à violência com armas de fogo em filmes indicados para 13 anos”.
A metodologia empregada em ambos os estudos é similar e envolve dividir os filmes em segmentos de cinco minutos e observar se um personagem disparou uma arma e atingiu outro personagem durante esse tempo. Múltiplas instâncias de violência com armas de fogo eram contadas apenas uma vez se acontecessem dentro do mesmo segmento de cinco minutos. Pesquisadores observaram que em “G.I. Joe: Retaliação”, por exemplo, houve 22 segmentos de 5 minutos em um total de 1h50, e violência com armas de fogo ocorreu em nove dos 22 segmentos – ocupando cerca de 40% do filme.
Os dois estudos
O estudo original envolveu a análise de 945 lançamentos líderes de bilheteria de 1950 a 2012; o novo cobre filmes lançados entre 2013 e 2015. Os dados claramente mostram que a quantidade de violência por hora em filmes indicados para 13 anos continua a aumentar em comparação a filmes indicados para 17 anos.
Os pesquisadores atribuíram o fenômeno à popularidade de filmes de ação para crianças e adolescentes que contêm muito do que eles chamam de “violência sem sangue” entre personagens de histórias em quadrinhos e expressaram preocupação a respeito do “apagamento das consequências”, tais como sangue e sofrimento, em filmes com personagens mais realistas.
Chris Ortman, porta-voz da Associação de Cinema dos Estados Unidos, disse que o sistema de classificação indicativa voluntário de 50 anos de idade conhecido como CARA (sigla em inglês para Administração de Classificação Indicativa) mudou ao longo do tempo para refletir mudanças nas “sensibilidades dos pais americanos”.
“Elementos como sangue, linguajar, uso de drogas e sexualidade são continuamente reavaliados por meio de pesquisas de opinião e grupos focais para refletir a preocupação atual e melhor auxiliar pais a fazerem as escolhas corretas de filmes para suas famílias”, de acordo com Ortman. O propósito da CARA não é “prescrever política pública”, disse, mas ao invés refletir os valores correntes da maioria dos pais americanos, e apontou que as classificações são atribuídas por uma equipe de avaliadores que são eles próprios pais.
Limitações
O artigo da revista Pediatrics tem algumas limitações, a principal sendo o fato de que sua amostra inclui apenas os 30 filmes líderes de bilheteria no ano. Em 2013-215, houve 2.078 filmes lançados no cinema, mas o estudo analisou apenas 90, ou 4% do total.
Romer e os outros autores do estudo reclamam por pesquisas que sejam capazes de discriminar quaisquer diferenças entre violência que é mais realista e violência que é “sem sangue” e perpetrada por personagens que são claramente mágicos ou sobrenaturais.
Armas de fogo são pouco estudadas
Violência com armas de fogo, ao que parece, é muito menos estudada do que outras formas de morte. Um artigo publicado na revista científica da Associação Médica dos Estados Unidos no começo deste mês estimou que, se os gatos federais em saúde pública fossem alocados com base na taxa de mortalidade, violência com armas de fogo teria recebido 1,4 bilhões de dólares ao longo da última década em comparação com os 22 milhões que recebeu.
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