O que terá acontecido a Wim Wenders? A pergunta é inevitável aos que veem os títulos das primeiras fases do diretor alemão, de “Alice nas Cidades” (1974) a “Asas do Desejo” (1987).
Com “Tudo Vai Ficar Bem” Wenders volta à ficção após sete anos dedicados a documentários. Depois de experimentar o 3D com resultados instigantes em “Pina” (2011), o diretor retoma o processo. Mas não será possível avaliar se a tecnologia agrega profundidade à dramaturgia, pois a distribuidora decidiu só lançar cópias sem relevo.
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O que sobra dessa experiência de linguagem são composições estilizadas em que Wenders retoma a influência da pintura de Edward Hopper.
O vazio melancólico que cerca figuras isoladas na arquitetura nos quadros de Hopper é a forma em que o cineasta se inspira para expressar as crises que imobilizam os personagens.
Insuficiente
A entrada de um ator ainda bruto, como Robert Naylor injeta vitalidade na narrativa. Mas é insuficiente para evitar que o filme seja uma cópia apagada do que Wenders já fez melhor.
A incapacidade geral de amar, o foco no poder de uma criança restaurar afetos, o devaneio como ato de resistência do indivíduo são questões que Wenders recupera, mas que reaparecem reduzidas a ossificado recurso autoral.
O que em seus melhores filmes era parte ressentimento, parte mutismo produzia uma intensidade, melancólica certa. Depois, a inação passou a exigir motivações, explicações psicológicas, como determinam os manuais de roteiro.
“Tudo Vai Ficar Bem” também sofre com a escolha de atores como James Franco e Charlotte Gainsbourg, mais personalidades do que intérpretes de personagens.
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