Espaço era relevante na vida cultural da cidade
Paulo Camargo
Houve um tempo, lá pelos idos das décadas de 1980 e 90, quando a Cinemateca (então anexa ao Museu Guido Viaro, a poucos passos do Largo da Ordem, no Centro Histórico) era um espaço essencial à vida cultural de Curitiba. Era menor e mais insalubre do que a atual, com assentos desconfortáveis e uma pilastra no meio da sala, que prejudicava a visão dos que sentassem em suas imediações. Mas era relevante, o que, infelizmente, deixou de ser há algum tempo. Por diversas razões.
Na sua tela, assisti a boa parte das filmografias de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Pier Paolo Pasolini, Ingmar Bergman e Rainer Werner Fassbinder, só para citar alguns, em exibições avulsas, ou mostras retrospectivas, que muitas vezes atraíam tanto público, que muita gente tinha de se sentar no chão, ou simplesmente ficava para fora.
Os tempos eram outros, pré-digitais, nos quais ver filmes ainda era uma experiência coletiva, e não se tinha acesso tão fácil a títulos do mundo inteiro por meio de sites de compartilhamento. A Fundação Cultural de Curitiba chegou a administrar outras quatro salas: Groff, Luz, Ritz e Guarani, que cumpriam a função de abrir espaço para o cinema que encontrava dificuldade para chegar ao circuito dito comercial. Nada disso existe mais e suspeito que faça parte de um passado sem chances de retorno, a despeito das promessas oficiais.
O título mais recente de uma estante para revistas de cinema em um canto da Cinemateca de Curitiba é de 2009. O móvel é apenas um indício de como a principal sala pública de projeção da cidade se tornou um espaço esquecido por parte do público, que mal nota a ausência de novas publicações para serem folheadas.
Nos últimos anos, os frequentadores da Cinemateca se tornaram sazonais, ocupando massivamente as poltronas apenas em lançamentos de produções regionais e grandes mostras, como a recente Olhar de Cinema. Mesmo assim, o Festival de Cinema Europeu, que ocorreu em maio, exibiu várias obras para um público com menos de dez pessoas.
Segundo os usuários do local, falta uma programação atrativa e constante, que não dependa de instituições e consulados para funcionar. "Lá não existe uma figura de um programador, preocupado com uma exibição consistente, voltada para a formação de plateia", diz o cineasta Wellington Sari, da produtora O Quadro.
A divulgação do roteiro de exibições é outro ponto que precisa ser repensado. Atualmente, os filmes agendados são anunciados por meio de notícias no site oficial da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), órgão que administra o espaço. Não há uma página específica para concentrar o histórico da programação ou apontar o que vem por aí.
Espectadores
"Quando conseguimos um flyer para espalhar pela cidade, temos mais público", reconhece Marcos Cordiolli, presidente da FCC e diretor da Cinemateca. Segundo ele, as sessões que são "adotadas" por determinados grupos sociais costumam ter mais sucesso, como foi o caso de uma exibição para cegos com áudio descrição feita na semana passada.
A localização da edificação também não ajuda. Como fica distante, por algumas quadras, dos principais circuitos culturais da cidade, o público acaba não ocupando o espaço. "Falta um café, que seja um local legal de convivência. Os filmes exibidos precisam ser discutidos após a sessão", reforça o cineasta Paulo Biscaia Filho, que foi diretor da instituição entre 1997 e 2002.
Em 2013, a FCC aumentou os preços dos ingressos alegando que iria usar o dinheiro para investir na programação e na infraestrutura. Na prática, o espaço ainda não sofreu mudanças significativas.
Exibições
Com um acervo de cerca de duas mil películas, muitas produções projetadas na Cinemateca de Curitiba são de formato DVD. A qualidade das obras nesses casos afugenta o público, que pode facilmente optar por assistir aos mesmos filmes em casa, sem perder resolução de imagem.
"O DVD é o último recurso de uma sala de cinema. Ainda mais uma que seja bem equipada como a que temos aqui, com capacidade para exibir filmes em alta definição", comenta o cineasta Aristeu Araújo.
À reportagem, a FCC afirmou que esse público sazonal da Cinemateca aumentou em 2013. Cerca de 18 mil pessoas assistiram a curtas e longas-metragens exibidos no período. Até junho deste ano, o número de pessoas que conferiram alguma atração no local foi de aproximadamente 6 mil.
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