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O artista mostra uma de suas esculturas mais recentes: fixação atual é pelas bicicletas | Antônio More/Gazeta do Povo
O artista mostra uma de suas esculturas mais recentes: fixação atual é pelas bicicletas| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
  • Walton e a esposa Nair, a maior admiradora do artista

Quem adentra a casa confortável no alto da Alameda Princesa Isabel, no Bigorrilho, mal sabe da arte e da história que ela guarda, seja em gavetas ou nas pinturas nas paredes. As esculturas penduradas a partir do teto, feitas de madeira, cabides e canos de PVC, ocupam uma boa parte do primeiro cômodo. Uma senhora elegante de vestido florido, que abre a porta, vai logo dizendo: "sou a maior admiradora do pintor."

O artista em questão é Walton Wysocki, 50 anos de arte, mas pouco exibida em salões e museus. De qualquer forma, os anos de experiência fizeram o seu nome conhecido entre colecionadores, o que permite que o projetista, que foi funcionário concursado da Copel, onde trabalhou por 30 anos, tire parte do seu sustento de uma de suas paixões. "Em 50 anos, queira ou não, você fica conhecido. Se você faz pastel na esquina há 50 anos, você tem o melhor pastel. Já pegou os macetes de tudo", conclui ele, sobre o reconhecimento. Hoje, um dos filhos do casal Walton e Nair o ajuda com as vendas – para o exterior, recentemente, despachou quadros para Munique, na Alemanha, e Miami, nos Estados Unidos.

Não fez faculdade de arte, simplesmente por não acreditar que um artista se forma em bancos escolares. Sua escola foi a convivência com pessoas da estirpe da crítica de arte Adalice Araújo (que morreu em 2012), e com o pintor Luiz Carlos Andrade de Lima (1933-1998). "Uma obra dele, A Sala de Espera, dá vontade de chorar! Essa obra deveria estar no Louvre", diz Walton, baixinho. Mesmo exaltado, o artista sempre conversa num tom confessional. Sussurra ainda mais baixo a idade, mas logo pede: "não conta pra ninguém".

Com Adalice e Lima, costumava frequentar os cinemas de rua e depois "festear em algum lugar". O cinema, junto com as artes plásticas, é uma de suas três paixões. Ama clássicos como 8 ½, de Federico Fellini, que já assistiu várias vezes com a companheira Nair – juntos também há cinco décadas. A atriz francesa Juliette Binoche ("revi pela décima vez A Liberdade É Azul, e é impressionante a categoria dessa moça"), os irmãos Joel e Ethan Coen, Woody Allen, Pedro Almodóvar e o ator Javier Barden são alguns nomes que o tiram do conforto de casa para as salas de exibição.

A tríade se completa com a bola. Guri, por volta dos sete anos, começou a desenhar enquanto ajudava no armazém dos pais. "Se passava um cachorro, eu desenhava. E isso foi crescendo, junto com a bola, sempre me acompanhando." Em 1974, chegou em casa e anunciou que era vice-presidente do Clube Atlético Paranaense. Depois de um ano de muitas viagens, ausências de casa e investimento do dinheiro do próprio bolso, Nair deu um basta: "Ou eu ou o Atlético." Escolheu a primeira opção, mas confessou que "escondido", continuou a ajudar o clube.

Com a arte, Walton também precisa dos limites de Nair. Assim que tem uma ideia, anota, nem que ela seja em um sonho. "É algo que Picasso sempre dizia", garante ele. Quando começa uma obra, fica agoniado até terminar, e a esposa precisa lembrá-lo de que já são duas horas da manhã.

Temas

Walton é um artista de fases e quando está fixado em um determinado assunto não consegue pintar outra coisa. Mas a técnica é quase sempre a mesma: o fundo do quadro é feito sempre com a fumaça do fogo, depois, o cinza vira a primeira imagem, moldada com algodão e borracha.

Quando anda mais apaixonado que o normal pelo cinema, o usa nos quadros, sempre combinado com lugares representativos da cidade, como o Passeio Público, por exemplo. Na tela Se Spielberg Fosse Curitibano, ciclistas alcançam o céu com o Museu Oscar Niemeyer ao fundo, como na cena de E.T. – O Extraterrestre. "Sou curitibano e não abro. Viajo por aí, mas a satisfação em voltar é enorme."

Ultimamente, está vidrado em bicicletas. Em uma das suas esculturas mais recentes, utilizou canos de PVC. Em outra, uma cartela com amostras de fios de costura deram o colorido para a obra, ao invés da tinta. Resolveu falar do tema por não acreditar que Curitiba seja uma cidade ideal para pedalar. "Aqui, a preferência é pelo automóvel." Em uma das obras, dois ciclistas pedalam aos pés de Jesus Cristo na cruz. "É isso que acontece. O ciclista é o novo sacrificado."

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