Proximidade com o entrevistado sempre foi a marca de Coutinho| Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Serviço

Cabra Marcado Para Morrer

Eduardo Coutinho. 119 min. Classificação indicativa: 12 anos. Preço médio: R$ 44,90. Documentário.

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A história da viúva Elizabeth Teixeira é o mote para falar sobre as Ligas Camponesas
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Não é exatamente fácil assistir a Cabra Marcado para Morrer, cultuado documentário do cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014): é um filme com uma história pesada, mas que ajuda a entender muito do contexto do país na década de 1960. Agora, a obra é relançada pelo Instituto Moreira Salles (IMS) – o cineasta, maior documentarista do país, foi assassinado em fevereiro deste ano pelo filho, tragédia que acabou ocasionando uma revisita a sua obra.

O lançamento traz, além do documentário, dois filmes inéditos de Coutinho, produzidos pelo IMS em parceria com a Videofilmes: Sobreviventes de Galileia (2013) e A Família de Elizabeth Teixeira (Brasil, 2013). Ambos se baseiam no retorno do cineasta às cidades de Sapé (Paraíba) e Galileia (Pernambuco), locações originais de Cabra.

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O material conta, ainda, com um livro que aborda como o filme foi produzido, com um texto de apresentação de Coutinho e comentários críticos que saíram na época do lançamento (em 1984), de Walter Lima Jr., Sylvie Pierre, Alicia Migdal, Manuel Martinez Carril e José Carlos Avellar. Há, ainda, uma faixa comentada com o diretor, com o montador do filme, Eduardo Escorel, e com o crítico de cinema Carlos Alberto Mattos.

Sobre João

O documentário narra a história do assassinato de João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, morto em 1962 em uma emboscada. Dois anos depois, Coutinho começa a produção do filme, que é interrompido com o Golpe de 1964, e retomado 17 anos depois, quando o documentarista retorna ao local e reencontra Elisabeth, viúva de João Pedro.

Coutinho, então, reconstrói a história das Ligas Camponesas em cima da "estrela" do filme, Elizabeth, que "casou fugida" – a família dela não aprovava a união com Teixeira –, e teve de viver na clandestinidade após a tragédia.

O que está presente o tempo todo no filme, e que ajuda a entender o contexto do Regime Militar no país, é como a equipe foi repreendida – eles tiveram de se esconder por vários dias. Coutinho acabou preso, e muito do filme se perdeu. Tudo o que foi filmado em 1962 e que conseguiu ser resgatado foi integrado à produção.

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Estilo

É interessante ver Cou­tinho em ação em dois períodos com quase 20 anos de diferença. O modo de produzir que marcou sua obra, que é o da proximidade com o entrevistado, sempre esteve presente. O documentarista, que ao longo deste ano vem recebendo homenagens também no exterior, como na França, México e Estados Unidos, demonstra respeito e verdade com quem e o que retrata. GGGG