São José do Rio Preto – Uma montagem de um grupo absolutamente desconhecido acabou se transformando em uma das maiores surpresas da edição de 2005 do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP). A companhia Bate Nessa Face Que Eu Te Viro a Outra encenou Navalha na Carne, de Plínio Marco,s de uma maneira inusitada. E acabou tendo de fazer várias apresentações extras para dar conta de todo o público interessado pela peça, principalmente devido à eficiente propaganda boca-a-boca feita na cidade.

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O Festival de São José do Rio Preto, um dos mais tradicionais do país, com 44 anos de atividade ininterrupta, terminou no domingo passado, depois de dez dias de apresentações. Foram 42 peças, entre atrações regionais, nacionais e três montagens estrangeiras, do Chile, França e Itália.

Navalha na Carne conta a história de Neusa Suely, uma prostituta pobre que sustenta seu cafetão, Vado. No momento em que a peça tem início, o público vê os dois no quarto, brigando. Ela apanha porque não trouxe o dinheiro prometido. Depois de saber o motivo da surra, diz que apanhou injustamente. Deixou o dinheiro, que deve ter sido roubado por Veludo, um homossexual que vive e trabalha no cortiço.

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A principal inovação da montagem foi fazer os espectadores entrarem no quarto de Neusa e Vado. Dentro da Casa de Cultura de Rio Preto, uma sala foi usada para servir de dormitório. O público entra quando Vado está deitado, nu, na cama. Neusa chega em seguida. A intimidade é completa. Os atores fazem a peça às vezes a 50 centímetros da platéia, limitada em 25 pessoas.

Mas não é só isso. O grupo decidiu fazer um truque a mais. Para o papel de Neusa Suely, foram escaladas três atrizes, de portes físicos bem diferentes: duas brancas e mais gordas, uma negra e magra. A cada 20 minutos, mais ou menos, uma delas sai de cena, dando lugar à colega. Antes de sair, a que estava no quarto dá sempre um longo abraço na substituta e chora – como que avisando o destino que ela terá de enfrentar. A companheira chora junto. Já sabe de tudo.

Vado é interpretado com muita violência, Dá tapas fortes em Veludo e nas três Neusas. Parece que realmente está jogando as atrizes contra a porta. Elas foram ensinadas a fazer barulho batendo primeiro com o ombro na madeira oca da porta. Há muita nudez, palavrões e baixaria.

Outra surpresa do festival foi a peça Padox. Cerca de 40 presidiários do Instituto Penal Agrícola de São José do Rio Preto foram convidados a fazer papel de simpáticos ETs numa coreografia organizada pela companhia francesa Dominique Houdart, Jeanne Heuclin. Eles se apresentaram com as pesadas fantasias em diversas partes da cidade. E fizeram uma sessão dentro do próprio presídio semi-aberto.