Park City O Festival de Sundance, iniciado no último dia 19, prossegue com mais gente chegando a esta já abarrotada cidade, que está contabilizando 40 mil visitantes. Ingressos para comprar, na grande maioria das sessões, a esta altura, só por milagre.
Um dos destaques do último fim de semana foi a concorrida exibição de Solo Diós Sabe, uma co-produção mexicana/brasileira. O filme de Carlos Bolado, que ficou conhecido internacionalmente por Baixa Califórnia O Limite do Tempo, concorre com Casa de Areia, de Andrucha Waddington, na mostra Cinema Mundial.
Ao subir ao palco para apresentar o filme, o diretor agradeceu aos produtores entre eles, Sara Silveira e aos atores principais, a brasileira Alice Braga (de Cidade Baixa) e o mexicano Diego Luna (de E Sua Mãe Também). Todos vieram a Park City para a estréia do filme no festival independente.
Como o título anuncia, Solo Diós Sabe é um filme sobre o inesperado, ou seja, sobre aqueles fatos que acontecem na vida das pessoas sem aviso prévio e que não há nada que elas possam fazer para mudar o rumo do destino.
Em entrevista ao Caderno G, Bolado conta que a origem do filme também tem a ver com destino. "Minha ligação com o Brasil começou por meio de meu pai, que adorava o futebol brasileiro e os livros de Jorge Amado, que leu todos. Por causa disso, fui várias vezes a São Paulo, Rio, Salvador. Quando a Sara (Silveira) encontrou comigo aqui em Park City, em 1999, e me propôs um projeto conjunto, foi apenas uma questão de tempo para filmarmos a história que eu já vinha arquitetando na cabeça."
A história é a de Dolores (Alice Braga), uma estudante brasileira em São Diego, na Califórnia. Damián (Diego Luna) é um jornalista e vive no México. Um dia, Dolores vai com amigos para um passeio em Tijuana e perde o seu passaporte. O acaso faz com que ela encontre Damian e inicie uma viagem sem volta, na qual acontece uma série de acontecimentos em efeito cascata.
"Meu filme começa como um road movie, mas depois se transforma num melodrama místico e musical, em que o ritmo conduz a história até o seu desenlace", diz Bolado, que, por trás de uma história de amor, aprofunda questões como o nível de controle que temos sobre as nossas vidas, como ler os sinais de uma fatalidade que se aproxima, ou até que ponto há condições de escolha no amor.
A brilhante cenografia de Vera Hamburger contribui para os resultados esperados pelo diretor, bem como as canções da roqueira mexicana Julieta Venegas, adicionada pela música eletrônica brasileira do pernambucano Otto, um dos herdeiros do mangue beat de Chico Science.
Luna está muito bem no papel do jornalista um pouco místico e muito supersticioso, mas ao mesmo tempo impotente ante os fatos. Alice repete o ótimo desempenho que teve em Cidade Baixa que lhe deu o prêmio de melhor atriz no último Festival do Rio num papel sensual através da viagem proposta pelo roteiro, que atravessa, ao mesmo tempo, elevados terrenos geográficos, espirituais e filosóficos.
Bolado conta que ao ver as imagens da atriz em Cidade de Deus não teve dúvidas que ela seria a atriz ideal para o papel. "Seu rosto me lembrou de imediato o de uma mulher que me inspirou a escrever o roteiro. Acho que foi mais um acaso na história do filme", afirma.
Bolado comenta também sobre as dificuldades de fazer cinema no México. "Além do apoio mínimo que recebemos do Estado, há uma distribuição desigual e perversa do resultado da bilheteria das películas. Há inúmeros diretores com muitas coisas para dizer e paixão para dizê-las" , revela o diretor, lembrando que ele mesmo tem vários projetos em mente. "Estou terminando A Linha Imaginária, que está em fase de montagem. E tenho engatilhado um documentário sobre indígenas norte-americanos que também está em pós-produção. Quero produzir com mais constância agora que tenho mais experiência e reconhecimento."
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