Nunca antes na história desta coluna eu escrevi sobre uma banda que teve um videoclipe com 1.831.397 visualizações no YouTube. Isso em seis dias, de quarta-feira passada até às 12 horas de ontem, quando escrevo estas mal amadas linhas. Quando você estiver lendo isso, completa-se uma semana do fenômeno e o número de visitas já deve ter ultrapassado os 2 milhões. Mas não é que eu nunca antes tenha escrito sobre a Banda Mais Bonita da Cidade. Em março, por exemplo, aqui neste canto de jornal, eu escrevi os dois parágrafos seguintes que agora repito:
"Esta banda paranaense relativamente nova, com pouco mais de três anos de estrada, vem surpreendendo com suas performances ao vivo e gravadas em vídeos, dramáticas, sensíveis e emotivas a ponto de arrancar lágrimas. Sim rolaram lágrimas pelo YouTube, do tecladista Vinícius Nisi, ao compartilhar com a cantora Uyara Torrente a bela letra da música "Nunca", de Vítor Paiva, da banda carioca Os Outros. Cliquem lá no YouTube e vocês entenderão a emoção toda. São vários vídeos, desde shows mais antigos, até alguns mais novos gravados sempre com o clima ao vivo, mas que de tão bem feitos podem ser considerados clipes musicais. Vale a pena.
Parte desta emoção escancarada vem de Uyara, que é atriz e trouxe para a banda esta forma dramática, ou melodramática de interpretação. Não é apenas cantar, é atuar, é a palavra dramatizada em forma de canção. A própria banda reconhece isso e trabalha os arranjos das músicas para dar vazão a esta característica da vocalista."
As linhas acima foram publicadas no dia 30 de março, um mês e meio antes da banda estourar nas "Oropa, França e Bahia". Naquela época, nenhum vídeo estava com mais de 100 mil views no YouTube, apesar de também ótimos. Hoje, além de "Oração", dos dez vídeos com a banda tocando, publicados por Vinícius Nisi, tecladista, violonista e videomaker da banda, dois estão com mais de 200 mil visualizações (os que fazem parte da tríade de Rio Negro) e, dos outros, não há nenhuma com menos de 25 mil views. O sucesso de "Oração", se espalhou pelos clipes vizinhos.
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O que faz esse sucesso? Por quê? Fácil. Porque o tal clipe nos dá vontade de compartilhar. Quando o Vina Nisi me enviou a versão ainda não finalizada, eu vi e imediatamente chamei minha mulher e meu filho para verem. Nós três gostamos. Eu não faço isso com todos os vídeos que me mandam.
A maioria das pessoas fez o mesmo, compartilhou com outros. E fizemos isso não só pela música, nem só pelo vídeo. Foi pelo pacote completo, que casou perfeitamente e se transformou em mais, em uma coisa maior. Tornou-se um produto cultural viral, como se diz para algo que se espalha rapidamente pela internet. Normalmente, isso acontece com vídeos de piadas ou pegadinhas, ou erros. Mas os internautas estavam para o bem na semana passada.
O outro vídeo brasileiro que bombou no YouTube foi o da professora Amanda Gurgel, que deu um depoimento fantástico em uma audiência pública no Rio Grande do Norte. O vídeo dela, postado no dia 14, teve 1.342.459 views até ontem.
Tanto os que falaram bem quanto os que falaram mal do clipe, lembraram de Beirut, de uma alegria hippie, de Novos Baianos, de pureza, de amizade. É o retrato do clipe. É uma constatação. Tendo ou não tendo essas referências, a maioria gostou sem precisar explicar por que, sem teorizar, sem racionalizar. Apenas sentiu uma vontade louca de compartilhar. Para o bem. Que bom.
Como escrevi no meu texto de março, o clipe é teatral, dramático e melodramático. Passa de uma melancolia inicial a uma alegria contagiante à medida em que Léo Fressato compositor, diretor teatral e autor da canção desce as escadas e, como bem escreveu Cristiano Castilho, aqui nesta Gazeta, encontra a felicidade em forma de amizade.
Curitiba, apesar da buRRocracia que prejudica os músicos, vive um clima de amizade, de companheirismo musical com as novas bandas e, principalmente, uma grande vontade de fazer as coisas acontecerem. O clipe dA Banda Mais Bonita da Cidade, de certa forma, reflete isso. Que bom.