Algumas coisas se repetem em todos os novembros. O vento quente traz aves de rapina migratórias como os gaviões papa-gafanhoto até Santa Catarina. Com sorte, nosso time foge do rebaixamento. Discos e livros são lançados a toque de caixa para fugir dos blockbusters de Natal. E em Curitiba, são divulgadas as atrações "locais" da Corrente Cultural.
O anúncio desencadeia peculiar fenômeno no (trepidante, porém menor do que merecia) circuito musical da cidade: como muitos se candidatam, mas são poucos os escolhidos, os preteridos abrem fogo contra a Fundação Cultural, que os esqueceu, enquanto os nominados recebem os tapas nas costas.
Não raro, reverberam nas redes sociais e bares insinuações de "compadrio", "igrejinha" e "cartas marcadas" nas escolhas. Na última segunda-feira, foram anunciados os contemplados da vez. Dezesseis bandas de diversos gêneros e quatro DJs se apresentarão no dia 15 de novembro em palcos do centro de Curitiba, ao lado de grandes figuras da música nacional como a diva Elza Soares, João Bosco e outros. (Veja a lista no site da Gazeta do Povo). A comissão que os escolheu foi composta pelo músico e produtor Vlad Urban e pelos jornalistas João Anzolin e Cristiano Castilho (um dos editores deste Caderno G).
Isto posto, faço algumas considerações bem pessoais a respeitos das escolhas e do evento. Em primeiro lugar, a história da panelinha não me é tão evidente. Foram chamados nomes com origens e credos bem diferentes (nos anos 1980, dizíamos tribos) como o sambista Leo Fé, as garotas do Uh La La!, a big band judaica Klezmorim, o sensacional Lendário Chucrobillyman e a banda Gripe Forte, entre outros. Ninguém que já tivesse tocado nos eventos passados. Foram 289 inscritos e apenas vinte selecionados, o que demonstra que o evento deu uma bela encolhida, o que não é bom. No ano passado, o número de artistas selecionados foi o dobro.
As bandas receberão um cachê de R$ 2,6 mil. De forma geral, descontados gastos técnicos e encargos, dá o famoso quatrocentão pra cada um numa banda de quatro integrantes. Não é muito, mas é bem mais do que se costuma pagar por aí (o que é nada bom) e ridiculamente menos do que os forasteiros levam. Outra novidade ruim foi que a ideia de homenagear uma personalidade no ano passado, Waltel Branco morreu na casca.
Correndo o risco calculado de ser alvo de insultos, avalio que a lista é, em uma palavra, boa. E a Corrente Cultural promete ainda que diminuída ser quente e divertida como é para os gaviões o dia de passar no bico nos gafanhotos catarinas.
Falso gringo
Numa semana com muito bom cinema na cidade, não dá para perder a estreia do filme Procurando Cris McClayton, na sexta-feira, no Cine Guarani (Av. República Argentina, 3.430, Portão), às 20h.
Dirigido pelos jornalistas Antônio Carlos Domingues e Ulisses Iarochinski, o filme conta a história de Pedro Luiz Schoemberger, ou Cris McClayton, um dos falsos gringos artistas que cantavam em inglês e usavam pseudônimos para parecerem astros estrangeiros, fenômeno comum na música pop brasileira nos anos 1970. Cris McClayton foi o exemplar curitibano.
Em 1973, ele gravou um compacto simples pela RCA Victor com as músicas "Longe de Você" e "Bye, Bye Rosemarie". A música fez grande sucesso e alçou o curitibano às paradas de sucesso por três anos consecutivos. No auge da carreira, o cantor apresentou-se em casas de shows no Japão. No final dela, era a atração do restaurante dançante Toscana, em Santa Felicidade.
Segundo o diretor Domingues, "durante as pesquisas e coleta dos depoimentos, acabamos descobrindo um personagem maior do que imaginávamos. Acabamos descobrindo que ele gravou o que é considerado o primeiro disco de rock do Paraná, um compacto simples com a música Você Mentiu Pra Mim, de autoria de Dirceu Graeser", disse.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.