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Turfe na veia: Ivo Nogueira monta a égua Caprice no Tarumã | Acervo/ Família Nogueira
Turfe na veia: Ivo Nogueira monta a égua Caprice no Tarumã| Foto: Acervo/ Família Nogueira

A angústia é a mesma que bate quando o nosso "pur-sang" uruguaio, cientificamente escolhido para chegar em primeiro na dupla exata, perde o embalo na reta final. Há o risco real do Jockey Club do Paraná fechar suas portas neste ano.

A bronca é famosa. Em 2012, seis quadrúpedes fizeram a carreira dopados, entre outras irregularidades. O processo administrativo está na mesa do Ministério da Agricultura. A pena mais branda prevê suspensão das atividades por um ano.

Algo que coloca em xeque o futuro da instituição centenária. Há muito com problemas financeiros e sem o apelo popular de outrora, o prado tem sofrido assédio pesado do mercado imobiliário. Um shopping vai engolir a metade do espaço. A outra, ninguém sabe.

Só de pensar, nosso coração turfista fecha os olhos e sinceramente chora. Um dia nas corridas é das últimas atividades para cavalheiros não conspurcadas pelo mau gosto de nossa época. Ah, tardecitas estuderas no Tarumã.

Desde muito aficionado pelo turfe, sou especialmente fã do nosso lindo hipódromo. A arquibancada modernista de Edmir Silveira D’Avia, o alambrado de madeira, o bar inenarrável.

Ainda somos muitos. Na cena da música de Curitiba, por exemplo, o Renato Quege do Beijo AA Força, e o Rafael Martins do Cacique Revenge sempre vão às reuniões. O multi-intrumentista Marcos "Coelho" Gusso é de uma família de treinadores e aficionados. Ele tem pelo menos uma grande música sobre uma égua, a tordilhinha Mon Amour, que no fundo não era a barbada que prometia.

Dois dos artistas mais espertos da minha geração também têm uma ligação sangunínea com o turfe. O bronco-poeta Irineu Almeidassauro, compositor e vocalista do Joanetes e do Sara 572 é filho do grande jóquei Ivo Nogueira.

Ivo teve uma carreira vitoriosa de mais de trinta anos. Correu aqui, no Rio, em Brasília, viajou o mundo. Depois, virou treinador. Irineu praticamente nasceu dentro de um stud, cresceu nas cocheiras. Quem conhece suas letras pode perceber a influência deste universo "sem frescura". O Sara 572 gravou uma música, "Cabeça a Cabeça", que é uma narração de um páreo sobre trilha punk. Bela homenagem de Irineu a Ivo.

De pai para filho é também a relação do poeta Adriano Smaniotto com o turfe. Um dos melhores textos da geração pós-Marcos Prado, ele cresceu acompanhando o pai nos grandes prêmios. O poeta tem um sistema peculiar de apostas. Já o vi quebrar a banca algumas vezes.

Nada comparável, no entanto, com a felicidade que teve nestes versos abaixo. Smaniotto reflete sobre a morte do pai. "Nossas almas babam", como escreveu o velho Bukowski:

"O Último Domingo"

Quando o pai se for irá montado em cavalos selvagens, o dele será preto, um puro sangue inglês veloz.

Não poderemos ver. Enquanto definhamos entre prédios ele apostará seu maior páreo: a tríplice coroa da morte.

Nada teremos a ver com sua sorte. Apesar de o querermos vencedor. A raia será toda de nuvens e assistida pela gente ilustre lá de cima.

Dada a largada nos restará propor aos céus esta última trifeta: ele em primeiro e em paz; meu avô, seu pai, em segundo e em terceiro, as nossas lágrimas.

Curitiba Underground

O grande momento da semana foi ver, lancetado de nostalgia, o documentário Curitiba Underground nas redes sociais. Dirigido por Patricia Filus, o filme faz um inventário da música curitibana nos anos 1990. Tempo em que a cidade firmou a reputação de capital mais roqueira do país. Nas regras da arte, Patricia ouviu alguns do artífices da cena de então, Norberto Pie, JR Ferreira, Fábio Elias, Caio Marques, Flávio Jacobsen entre outros. O mais legal é ver que ainda tem bastante história para contar desta época. O filme tem o mérito de resgatar a trajetória do saudoso Mr. X. Quem não sabe quem é, corra lá para ver.

Assista ao documentário Curitiba Underground, de Patricia Filus, em www.youtube.com/watch?v=quTmcn4-Inc.

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