Carlos Careqa, que nasceu catarinense, formou-se paranaense, atualmente está paulista e já foi nova-iorquino por alguns meses| Foto: Imagens/Divulgação

Outro dia encontrei com a cantora Rogéria Holtz em uma inextinguível fila. Conversa vai, conversa vem sobre a cena musical, ela contou que por vezes dá até uma desanimada, uma vontade de parar com tudo. Nessas horas ela lembra do músico Carlos Careqa, que lhe disse certa vez: "Não pare, porque tem muita gente ruim que está insistindo e trabalhando e se você parar, eles é que vão vencer". Bom conselho que serve tanto para Rogéria quanto para o próprio Careqa, que ainda nem terminou de fazer shows de divulgação do disco em que interpreta versões de Tom Waits (À Espera de Tom) e já lança mais um CD, o sexto, "Tudo Que Respira Quer Comer", por seu próprio selo, o BED (Barbearia Espiritual Discos).

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Este novo trabalho é mais um belo fruto da parceria com Mario Manga, que cuidou da produção e arranjos, além de tocar guitarra ou cello em todas as faixas. É uma comemoração aos 25 anos de trabalhos musicais deste cabeludo Carlos Careqa, que nasceu catarinense, formou-se paranaense, atualmente está paulista e já foi nova-iorquino por alguns meses.

Comemorativo, o disco traz antigos e novos parceiros e as participações especiais de Mônica Salmaso, Maria Alcina, Skowa, Zé Rodrix, Marcelo Pretto (a voz gutural do Barbatuques), Raul de Souza, Toninho Ferragutti, Guello, Tatiana Parra e Juliana Perdigão, entre outros músicos. O lançamento oficial será nesta sexta-feira, em São Paulo – ainda não tem confirmação de show para Curitiba.

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Começa com a faixa título em que, entre o otimismo e a dúvida, ele pergunta: "Esse fim de mundo infinito / Vontade de viver bonito / Esses dez por cento de prazer / Esse interno amanhecer / Tudo o que se ouve será música?". A resposta a esta questão aparece na faixa 9, que tem no título uma outra interrogação: "Por quê?". A letra pergunta: "Por que você quer ser artista? / Por que você quer ser cantor? / O campo precisa de gente / Não tem mais agricultor".

A voz de sereia de Mônica Salmaso em "Vinte e Oito" embala versos instigantes e enigmáticos – "Como a madeira bruta / Se transforma em instrumento / e volta a ser madeira / sob um céu tão cinzento". Maria Alcina aparece com sua voz marcante afirmando "Você não entende de sonho / Você não entende de farra / Você não entende de vinho / Você não entende de barra" para então perguntar "Que que ce qué / que que ce qué comigo / Você agora quer ser meu amigo"?. Os versos de Mario Quintana – "Todos estes que aí estão / atravancando o meu caminho / Eles passarão / Eu passarinho" – inspiraram a música mais triste do disco, "Isso Passará", em que a voz de Tatiana Parra não consegue afundar-se na melancolia ao cantar: "O terno da saudade que eu vesti pra te encontrar / O laço apertado da vontade de chorar / A lágrima cansada no meu rosto vai rolar / O coração não bate, mas se escuta em algum lugar". É uma balada, mas poderia ser um blues.

De Curitiba, os velhos pareceiros aparecem. Fernando Vieira está em "Fantasias", uma alegoria infantil, mais uma bela letra, e em "Cida", uma brincadeira em que todos os versos terminam em Cida. Adriano Sátiro está em "Vacamor", que na voz de Zé Rodrix fala do amor por uma vaca. Thadeu Wojciechowski é o parceiro em "Canção de ninar para uma madrugada insone" um samba que tem um título autoexplicativo. Chico Melo está em "Feltro no Ferro" onde toca piano e fez um arranjo cheio de dissonâncias e "atonâncias" – bela canção, que se destaca –, Everest em um disco cheio de pontos altos. Roberto Prado está em "A Volta Triunfal" canção otimista, se a humanidade tiver mais uma chance. Por fim, um parceiro paranaense-paulista, Itamar Assumpção, em "Mal Desnecessário", esta mais pessimista.

São 25 anos dedicados à música, lutando pela música, ajudando a erguer a música, derrubado pela música, assumido pela música, reerguido pela música. Valeu a pena Careqa ter resistido.