No jazz, Brandão toca saxofone: um músico dividido entre dois mundos| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo

O instrumentista e compositor Hélio Brandão é um homem dividido. Metade dele vive para o jazz e a outra metade para a música erudita. Neste ano ele lançou um projeto também igualmente dividido em que mostrou dois espetáculos, primeiro suas composições jazzísticas e depois as composições clássicas. Duas ótimas apresentações. Sobre o primeiro, há um CD. O segundo transformou-se em CD e DVD (edição dupla), com a participação da Camerata Brandão.

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A família Brandão é sinônimo de dedicação à música erudita em Curitiba. Os seis filhos seguiram a carreira: Maria Ester e Maria Luíza no violino, Zélia na flauta, Maria Alice no cello e Eunice, que morreu precocemente, era especialista em música antiga e tocava viola de gamba. Hélio, como homem dividido, no erudito toca contrabaixo e no jazz e na música instrumental brasileira toca saxofone (embora também possa tocar contrabaixo em algumas apresentações).

Neste ano, Hélio concluiu seus projetos de mostrar o seu lado autoral nas duas frentes, com os espetáculos e respectivos lançamentos dos CDs e DVD, além de apresentações didáticas. Em agosto, no Pequeno Auditório do Teatro Positivo, ele montou um sexteto especial para a primeira parte da Mostra Musical Hélio Brandão, a jazzística. Com ele formaram os colegas curitibanos Mário Conde (guitarra), Jeffersohn Sab piano) e os convidados "importados" Edu Ribeiro (bateria) e Marco Lobo (percussão). Foi simplesmen te o melhor show de música instrumental que eu vi este ano em Curitiba (talvez em muitos anos). Uma amostra, um vídeo com o ensaio e outro com entrevista pode ser conferido no Blog Sobretudo.

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Mas Hélio não é um só, ele é mais. Na segunda parte da mostra, reuniu um time de eruditos para executar suas composições clássicas. Foi em setembro, também no Pequeno Auditório do Teatro Positivo. O espetáculo serviu para lançamento do DVD, gravado em 2008, durante apresentação no Curitiba Jazz Meeting – só mesmo ele para quebrar barreiras e fazer uma apresentação erudita dentro de um evento de jazz.

Da gravação do CD e DVD para o espetáculo se passaram três anos e há algumas diferenças na composição do sexteto e também da Camerata Brandão e no número de músicas.

Na parte erudita, senti muito a falta no disco e DVD de uma valsa linda executada no concerto de lançamento. Uma valsa simples, mas muito melodiosa e que poderia representar muito bem a passagem fácil que Hélio Brandão faz da música erudita para a popular. Uma valsa pode tanto ser tocada em um concerto erudito quanto em show de jazz ou apresentação de grupo de choro. Fosse eu o produtor e ela estaria tanto no disco de jazz quanto no erudito.

No DVD estão apenas três peças que foram apresentadas e compostas como um tributo a Villa Lobos. A duas primeiras têm a inspiração em ilhas: "Numa Ilha Vazia", de três movimentos ("Tarde", "Noite" e "Manhã"), e "Farol da Ilha", que traz Zélia Brandão em solo de flauta. A terceira peça homenageia a residência da família Brandão, um belo e imponente solar nas Mercês. A música leva o nome do endereço dos Brandão: "Tapajós 177". Tem cinco movimentos: Andante, Allegro, Elegia, Andante e Finale, como a mostrar a variação de ensaios, práticas de instrumentos, ou mesmo a movimentação constante pelos cômodos da residência.

No DVD e nos espetáculos, a regência da Camerata Brandão coube ao maestro Norton Morozowicz, ele próprio, além de conceituado regente, irmão de um outro grande compositor erudito curitibano, Henrique Morozowicz, que passou a ser conhecido como Henrique de Curitiba.

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Os interessados nos discos e DVD de Hélio Brandão podem entrar em contato com a produtora Gramofone (já que a Fundação Cultural de Curitiba não comercializa os produtos que ajuda a produzir) pelo telefone (41) 3228-1044, ou e-mail: gramofone@gramofone.com.br.