Curitiba outdoor. Curitiba fora da casinha. Curitiba nas ruas. Curitiba nos palcos. A Virada virou Curitiba do avesso. O avesso de Curitiba é a espontaneidade. Curitiba é uma cidade voltada para dentro. Por dois dias, Curitiba saiu de casa e virou uma cidade que dá bom dia. Curitiba fora da toca é uma cidade que se toca. Curitiba mostrou os dentes sem dizer GRRR. Curitiba sentou na grama e no petit-pavé. Curitiba bateu pernas e apurou ouvidos.
Curitiba teve de tudo na Virada Cultural. E eu perdi muito, mas ganhei mais. Fui nos grandes e nos pequenos. Vi o que muita gente não viu e o que muita gente viu eu não vi.
Eu vi a banda Crocodilla começar sem o guitarrista Yuri Lemos, que estava correndo de um palco a outro e chegou atrasado, mas a tempo de um show matador e com direito a música nova embora o acerto dos instrumentos só surgisse no final. A mesma sorte não o banda Copacabana Club, que também subiu ao palco sem o guitarrista. Mas, neste caso, Rafael Martins deixou de vez a formação do quinteto e mesmo se propondo a cumprir os compromissos até o final do ano, a banda decidiu tocar só em quatro. É a segunda vez que os Copas perdem um guitarrista. Rafael, por sua vez, ainda não assumiu nenhum trabalho e está louco para tocar. De onde virá o primeiro convite?
Eu vi e ouvi a bela palestra do poeta Thadeu Wojciechowski. Eu gritei "Marcos Prado vive!" com as poesias de Sérgio Viralobos, Roberto Prado, do tímido Edilson Del Grossi e do professor Ivan Justen Santana.
Eu vi Dary Jr. subir ao palco para cantar junto com os bardos roqueiros da 6.ª Geração da Família Palim do Norte da Turquia. E eu vi a boa banda do ilustrador e roqueiro gaúcho Diego Medina, reforçada pela guitarra de Kassin, ofertar sua música para duas dúzias de pessoas.
Eu vi o Lendário Chucrobillyman se inserir à força na programação com performances que não precisam de licença. Ele toca onde quiser (menos na Inglaterra, hehehe) e lá na Praça João Cândido, nas Ruínas, enquanto a Banda Mais Bonita da Cidade ensinava aos curitibanos as outras músicas além de "Oração", Chucrobillyman e Jhonny Washington juntavam punks, rastas, desocupados e músicos em um happening sonoro um pouco prejudicado porque alguém caiu no amplificador de voz e quebrou o aparelho. Em duas edições da Virada Cultural, o Koti ficou fora da programação "como isso acontece?", me perguntou Rafael Martins.
Eu ouvi que o som de Marcelo Jeneci sobre o palco estava muito bom ele dá espaço para jams dos músicos, o que é ótimo pois a banda é muito boa , mas o som que saía para a plateia estava ruim. Eu ouvi que durante o show do Copacabana, o som nas caixas espalhadas na rua estava defasado, fora de sintonia, atrapalhando a audição do espetáculo.
Eu vi e ouvi as boas baladas-cabeças dos gaúchos Os The Darma Lóvers, com o baixo suingado do ótimo Thiago Heinrich e ainda a participação mais que especial, quase mitológica de Jimi Joe (Replicantes e Wander Wildner, além de jornalista e radialista, um ícone da cena musical gaúcha) na viola de 12 cordas.
Eu vi e ouvi Jair Rodrigues fazer discursos, contar piadas, sambar, plantar bananeira e até cantar com vigor aos 73 anos de idade e fazer tudo terminar em carnaval. O curitibano até sambou. E no mesmo palco, no dia seguinte, o curitibano chorou com a Orquestra Sinfônica e Hamilton de Holanda e roqueou com os hits diabólicos de Roger e seu Ultraje a Rigor.
Eu vi a marcha dos zumbis do Largo da Ordem ao Museu Oscar Niemeyer, no domingo, até se misturarem com os cosplayers que estavam em um evento em homenagem ao grande Claudio Seto.
Eu vi e ouvi o charme e o carisma na voz de veludo de Marcos Neguers e no suingue da ótima banda NêgoMundo junto ao clima de festa no quintal de casa no Bicicletário onde estavam as mulheres mais lindas da cidade.
Eu vi e ouvi o futuro da música de Curitiba no excelente espetáculo de gente grande do Brasileirinho subindo o Morro no Auditório Poty Lazzarotto, no MON.
Vi e ouvi mais, mas também vi que o espaço acabou.
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