É conversando que a gente se entende, ensina a sabedoria popular. Mas é claro que nem sempre. A experiência demonstra que a encrenca pode nascer "num café pequeno".
Na última segunda-feira, a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) chamou para uma conversa alguns artistas da cena musical curitibana.
A intenção aparente era de aparar algumas arestas perdão pela aliteração surgidas após desencontros recentes a respeito da gestão pública da cultura local que se mantiveram acesos nas redes sociais.
O caso mais rumoroso foi a "descontinuidade" do projeto Música nos Parques. No mês passado, a FCC anunciou que por "falta de público", as apresentações do projeto iriam "migrar para outros eventos populares". Parte dos artistas escalados não gostou e criticou a morosidade e hesitação da gestão da Fundação.
Da reunião de anteontem, participaram treze representantes das bandas que estavam originalmente escaladas para o projeto. Depois de alguns dedos de prosa ficou acertado que as apresentações serão remanejadas em datas, locais e ocasiões diferentes das que foram marcadas no edital.
O novo calendário ainda não está pronto. Sabe-se, porém, que o remanejamento começa com seis das atrações tocando no palco que a FCC montará durante a Vinada Cultural, no dia 26 de abril, no Passeio Público.
Outras datas certas são dias de jogos do Brasil e jogos da Copa do Mundo em Curitiba. Os shows serão realizados nas Ruínas do São Francisco e outro local a se confirmar no centro da cidade, além de espaços em bairros como a Vila Zumbi, a Vila Nossa Senhora da Luz, o Parque do Atuba e outros.
Tudo resolvido então? Mais ou menos. Alguns músicos mais "calejados" aproveitaram o encontro para fazer "na chincha" as críticas à gestão da FCC.
"A solução era continuar o projeto do jeito que estava, fazendo uma divulgação melhor, pois um dos objetivos principais era formar público", observa Oswaldo Rios, integrante da banda de música caipira Viola Quebrada.
Para Rios, a solução encontrada deixa evidente um "erro de gestão" e foi a "possível, mas não a melhor, pois vai atrás de público de eventos que já existem, deturpando a ideia inicial do projeto".
Do outro lado, para o superintendente da FCC, Igor Cordeiro, o remanejamento atrairá a atenção de muito mais pessoas. Ele ressaltou "que o projeto ainda tem como função divulgar o trabalho das bandas e contribuir para a formação de público". "O diferencial, desta vez, é que as bandas podem escolher com qual público querem dialogar e, ainda, têm a oportunidade de fazer uma apresentação no centro e outra no bairro", avalia Cordeiro.
Por enquanto, a coisa fica assim.
Teretetê
Olhando de fora, parece razoável a decisão pública baseada no fato de que, se os números mostram que o projeto tem mesmo pouco público, fica caro e despropositado mantê-lo no modelo atual.
Por outro lado, isto era algo que podia ter sido detectado antes da abertura do edital. Além do que, a impressão geral (minha também) é de que não era bem assim. Das vezes em que assisti a shows do Música nos Parques percebi uma resposta boa, um projeto em que parecia valer a pena apostar. Tudo discutível, enfim.
Neste teretetê todo, o que fica de mais louvável é a linha de contato direto aberta entre a gestão e os artistas.
Também me parece saudável que haja pressão e cobranças pelos meios possíveis como a imprensa e as redes sociais. E que as questões de interesse público sejam discutidas, mesmo que em tom alto, sem extrapolar para a violência real.
Uma versão republicana do "deixe que briguem!", que pregava o velho Linus quando o bochincho estourava. Ele que sabe tão bem que as turmas dos "deixa disso" só servem para ajudar a levar desaforos para casa o que sempre piora tudo.
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