"Otimismo, numa hora dessas?", me pergunta o amigo, desconfiado nato. E eu admito, algo constrangido é certo, que sim. As eleições sempre me deixam assim. Sou da geração que tomou gosto por política durante o processo de democratização do país. Lembro do meu pai, voltando apaixonado do comício das Diretas. Parecia que o Atlético tinha ganho cem Atletibas. Desde então a política a boa, com caixa alta e a rasteira (com caixa dois e tudo) me interessa como tema de sociologia e fé.
Desse jeito, mesmo que a biometria não tenha funcionado, que os meus candidatos ao Legislativo os dois melhores votos que já dei não tenham vencido como sempre, que a bancada dos descendentes tenha crescido com crianças estúpidas de sobrenomes famosos, ainda assim, "haverá espetáculo "mesmo que a vítima adormeça, a corda enlace o pescoço, a voz se perca no grito e o circo desapareça "
A trágica Assembleia Legislativa que escolhemos nos representa sim. Enquanto formos patrimonialistas, conservadores, machistas, subservientes e nepotistas será assim. Mas acho mais importante ter a manha de perceber isso. Muito mais do que juntar um saco de pedras de intolerância ou optar por um cômodo descaso.
É tempo de perguntar também que reflexo o resultado das urnas pode ter na gestão pública da cultura. No terreno municipal, o mais próximo e visível para nós que vivemos o dia a dia cultural da cidade, houve uma mudança significativa. Depois de muitos anos, o deputado Angelo Vanhoni (PT) não conseguiu se reeleger. Sabemos que Vanhoni é a voz mais importante do setor cultural na aliança que se formou para eleger o prefeito Gustavo Fruet (PDT) em 2012. O presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Marcos Cordiolli, tem uma história longa de colaboração e amizade com Vanhoni.
Não acredito que a circunstância vá provocar mudança na gestão cultural da cidade, mas o dado é importante e representa um enfraquecimento político da atual gestão da FCC.
No terreno estadual segue tudo como dantes. A impressão que dá é que o governador Beto Richa, reeleito pelo povo, é um político que não foge à regra brasileira no que toca a gestão. Parece que nossos chefes do Executivo falam com seus secretários de Cultura uma única vez por mandato, no dia da posse, e dão um recado mais ou menos assim: "Dê teus pulos e nunca me procure".
O secretário Paulino Viapiana deve permanecer e a sensação será a mesma dos últimos quatro anos: mesmo com um gestor hábil, a pasta da Cultura estadual segue irrelevante para o governo. O que se espera nos próximos anos é a efetiva participação conjunta de ambas as secretarias no plano nacional de cultura. Uma política pública federal que ainda que tenha aspectos quase com cores de totalitarismo do leste europeu, representa sim um avanço na democratização da cultura.
Algo que deveria ser tema da debate do segundo turno da eleição presidencial, mas não será, obviamente, num cenário em que só tremularão as bandeiras da corrupção em um Fla-Flu em que se enfrentam dois modelos de política econômica.
Mesmo assim sigo com fé inquebrantável na amálgama, na quizomba que constitui a nossa nação. E o lançamento dos discos novos do Escambau, ruído/mm e Motorocker no mês passado, por exemplo, mostra que a boa cultura anda com suas próprias pernas e que apesar de tudo amanhã vai se ouro dia.
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