Há músicas para as quais se precisa de tempo. E quem o tem, hoje em dia? As músicas, todas elas, são casadas com o tempo. O tempo musical, que pode ser rápido ou lento. Há aquelas que nos roubam o tempo e o silêncio aquelas que não deveriam existir ou cruzar nosso caminho. Vivemos uma vida corrida, em que temos de fazer tudo rapidamente, inclusive ouvir música. No passeio, quando vamos trabalhar, no ônibus de volta para casa, indo para o jogo de futebol ou para a balada. Música no carro, no engarrafamento, entre uma notícia ou outra. Tudo rápido, efêmero. Raramente nos damos o prazer do tempo, e o da música. O som apenas preenche tempo e espaço, enquanto fazemos algo, ou estamos no intervalo entre uma outra tarefa.
Mas há músicas que precisam de tempo. Mais tempo. Um tempo mais longo, mais dedicado. E quem tem esse tempo?
Faço esta introdução para falar do novo disco da dupla Felixbravo (www.myspace.com/felixbravo), chamado Camafeu. Formado por Bernardo Bravo e João Felix, O DUO já atua por vários anos na cena musical de Curitiba, e agora chega ao segundo registro sonoro (o CD está à venda na Galeria Lúdica, na Rua Inácio Lustosa, n.º 367). É daqueles trabalhos que não casam com a pressa, precisam de tempo e calma para serem degustados.
É um disco de canções, na tradição brasileira que se perde aos poucos, mas de repente reaparece em álbums como este, que conversa com outros trabalhos atuais como o da cantora Tulipa Ruiz, ou o do mineiro Kristoff Silva. Bebe em Chico Buarque, em Edu Lobo, em Tom Jobim, em choro, em bossa e até mesmo em valsa. Canções e bom som.
São 12 faixas com participações especiais de Maria Alice Brandão, Sérgio Albach, Dú Gomide, Rogério Leitum, Márcio Rosa e Sérgio Coelho, entre outros.
Os arranjos e a direção artística são de André Prodóssimo. Arranjos ótimos. Algumas músicas, por vezes, resvalam rapidamente em lugares comuns, mas logo são salvas por achados musicais. É o caso de "Sossegúria", que antes de se perder é resgatada pelo belo solo de trombone de Sérgio Coelho.
Os sopros merecem destaque especial, pois o flugelhorn de Rogério Leitum e o clarinete de Sérgio Albach também são nota 10 em "Bossa n Bossa", "Maxichoro" e "Caramanchão". Mas o disco todo é bem arranjado e usa instrumentos como harpa (Felipe Ayres), violoncelo (Maria Alice Vergueiro lindo), sítar (Du Gomide sempre ele e seus dedos indomáveis) e banjo (André Prodossimo), que dão a textura necessária a cada faixa, acompanhando o violão de João Félix e a voz de Bernardo Bravo (além dos instrumentos mais tradicionais, como bateria, contrabaixo, cavaquinho, violão de sete cordas, flauta etc).
É um disco feito de nuances, camadas sonoras que se sobrepõem. Não é um CD que pega de imediato pela melodia ou pelo ritmo. Vamos aprendendo com ele na medida em que o ouvimos. É um trabalho para se ouvir calado e solitário. Não serve para fundo sonoro de conversas ou barulhos urbanos. Necessita de tempo para explorar e descobrir todas as possibilidades sonoras e poéticas. E quem não tem tempo? Ah, azar dele.
Outubro ou nada
No sábado, tem mais uma noitada do projeto Gravando Curitiba (www.gravandocuritiba.com.br), reunindo as bandas Nêgomundo (funk, samba, afrobeat e afins: http://www.myspace.com/negomundo) e Ecos (pop/rock www.myspace.com/bandaecos).
Dias 9, 10 e 11, o Festival Psycho Fest reunirá, no Jokers as bandas Sub-Monsters (RS), Cwbillys, Kráppulas, As Diabatz, Silver Shine (Hungria), The Porres (SP), Missionários, Anne and the Malagueta Boys, Chernobillies, Sick Sick Sinners, Feras do Caos, Psychodelic Jungle, Three Bop Pills, The Brown Vampire Cats (Londrina) e Ovos Presley.
O Curitiba Jazz Meeting está de volta nos dias 17, 24 e 25 de outubro, com André Geraissati tocando com a Orquestra Sinfônica do Paraná, no Guairão. O multitecladista norteamericano Scott Kinsey, que toca com o Tribal Tech, mostra suas técnicas no Paiol, onde terá também a apresentação da pianista Marília Giller.
O trombonista Raul de Souza, que faz turnê nacional com o grupo Na Tocaia, toca dia 28, no Teatro HSBC.