Homem Canibal: som da banda é difícil de rotular| Foto: Divulgação

Há algumas músicas que, generosas, se permitem gravar muitas e muitas vezes passando de um para outro cantor, deixando-se levar, volúvel e passiva. Há outras que, ao encontrar um intérprete, se entregam tão completamente a esse amor, que ficam para sempre marcadas por aquela interpretação definitiva. Em 1976, um dedilhado de violão e um fagote introduziram a voz inconfundível de Cartola a cantar "Deixe-me ir, preciso andar/ Vou por aí a procurar /Rir para não chorar…" Desde então, os versos de Candeia ficaram eternamente marcados como propriedade de Cartola.

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Agora, uma banda de Curitiba ousa desafiar o eterno e conquistar para si o amor e o calor da canção clássica. No lugar do violão e do fagote, uma guitarra minimalista, uma cuíca e uma bateria seca. Em vez da voz singela de Cartola, uma voz roqueira. Sim, a banda Homem Canibal, que lança o disco Samba Russo, ousou e se saiu muito bem ao regravar "Preciso Me Encontrar", que Candeia havia feito especialmente para Cartola e foi registrada no segundo disco do músico, gravado pelo selo Discos Marcus Pereira.

Pela estranheza, ousadia e excelência, "Preciso Me Encontrar" é o grande destaque do álbum e também o único cover. Além dela, me agradam também a sequência do miolo. "O Velho da Mata", uma espécie de catarse expulsando medos e pesadelos (abro parênteses para lembrar que essa música poderia estar presente no disco Monstros Que Não Existem, Mas Que Eu Acredito", da banda Penitentes); "Mais do Que a Imensidão", um esperto baião’n’roll; e "Samba Triste", que de triste não tem nada, e conta com a participação de uma charanga, aproveitando que o percussionista Carlos Coelho Rocha é diretor de bateria de uma torcida organizada (que tem sofrido bastante neste Brasileirão de 2014).

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A façanha da Homem Canibal com "Preciso Me Encontrar" só foi possível porque ela não é uma banda de cover, muito menos uma banda de samba, ou de MPB (clássico ou universitário). É difícil resumir em um rótulo o que é a Homem Canibal, que está no quarto trabalho de uma carreira prestes a completar dez anos.

O samba-elétrico ou o rock batucado, sambado da Homem Canibal se distancia do que costumou-se chamar de samba-rock brasileiro. A banda canibaliza várias linguagens para construir um som próprio. Pode ser um samba pesado com guitarras heavy e distorcidas do ótimo Gilson Fukushima, que assina a produção e a maioria dos arranjos, junto com o baterista Val de Oliveira. Pode ser rock impuro, com uma percussão com referências de umbanda, mas com mão pesada. Um baixo que passeia do melódico ao quebradiço.

É um disco forte e poderoso como a voz de Thiago Menegassi, o principal compositor do grupo, com sua dicção que decanta sílaba por sílaba mesmo nas faixas mais pesadas e guturais.

Três passos atrás na Cultura

O chavão ensina que, por vezes, é preciso dar um passo atrás para avançar dois à frente. O governo Beto Richa está subvertendo essa lógica na pasta da Cultura e dando três passos atrás para avançar um à frente. 1.º) Tirou a Rádio e TV Educativa (E-Paraná) da Cultura para passar à Comunicação. 2.º) Agora quer torná-la um serviço social autônomo, o que significa uma semiprivatização. 3.º) Quer fundir as pastas da Cultura e do Turismo em uma só secretaria.

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A justificativa nos três casos é a de baixar custos sem prejudicar o "bom" andamento dos trabalhos.

Os funcionários da Secretaria da Cultura e da E-Paraná já estão sobrecarregados, mal pagos e conseguem fazer um trabalho criativo e de boa qualidade. Por outro lado, os apaniguados, puxa-sacos e protegidos que não estão nem aí para o trabalho e só pensam em política e em agradar o chefe são cada vez mais prestigiados e bem pagos. Uma boa varrida nesses politiqueiros daninhos proporcionaria uma economia e tanto para o Estado, que não precisaria sacrificar a Cultura.