Alexandre Nero entra seis dias por semana na casa de milhões de pessoas pela tela da TV Globo. Já participou de várias novelas em atuações de destaque e conquistou o seu lugar no coração do público, mesmo quando faz papel de mau, como o do motorista Baltazar, na atual Fina Estampa. Agora mostra um lado ainda pouco conhecido deste grande público. Acaba de lançar o disco Vendo Amor, em Suas Mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições, com composições próprias e interpretações. Alguns vão dizer que quer aproveitar o sucesso para aparecer como cantor, como acontece com muitos atores, aqui ou em Hollywood. Estarão errados.
Há 22 anos, Alexandre Nero vive música. Em projetos-solo ou em grupos já tem oito discos lançados, fora as participações em coletâneas. Portanto, não se pode acusá-lo de ator que quer aproveitar os holofotes para mostrar um trabalhinho amador como músico. Nada disso.
Na Curitiba do final do século passado, ficou mais conhecido como músico do que como ator. Ajudou a criar o Clube do Compositor, em 1994, pelo qual lançou o seu disco de estreia, Camaleão, de 1995, com composições próprias e de colegas do Clube.
Nessa época também se iniciava no teatro, mas ainda mais como um músico que, aos poucos, subia ao palco para atuar.
Em 1997, ingressou no Grupo Fato, pelo qual gravou três trabalhos até sair, em 2007. O grupo curitibano, que continua em atividade, mistura a sonoridade de pesquisa musical com a participação cênica, no qual Nero caiu como uma luva.
Paralelamente ao Fato, idealizou o Denorex 80 (que faz covers usando muito humor como linguagem) e tem com ele um disco lançado em 2006. Em 2001, lançou o segundo CD solo, Maquinaíma, um disco bem interessante, com arranjos muito atuais. Em 2007, Maquinaíma virou banda e surgiu o disco Chic Science, com releituras de Chico Science.
Música e teatro sempre estiveram presentes na vida de Nero, seja em trabalhos de trilhas musicais ou como sonoplasta de peças, enquanto o ator se formava e se impunha. Com competência, conseguiu se dar bem nas duas frentes. O "ano da virada" do músico para o ator teria sido 2006, quando atuou em Os Leões, da Armadilha Cia. de Teatro, que lhe rendeu vários prêmios.
Em 2007, casando música e teatro, ele fez a trilha da peça O Colecionador de Destinos, quase toda instrumental, registrada em disco e em parceria com o maestro Gilson Fukushima, que também é o produtor do atual CD.
No mesmo ano, assumia papel em Casos e Acasos, na televisão. Vieram mais convites e, no ano seguinte, estava em A Favorita, novela das oito, na qual fazia o personagem Vanderlei, o verdureiro, que o projetou nacionalmente. Os trabalhos maiores exigiram mais do ator e a música ficou um pouco de lado. Ele deixou os grupos aos quais se dedicava.
Em 2009, no entanto, retomou os projetos musicais e entre as gravações de novelas selecionou as músicas e registrou as canções de Vendo Amor, em Suas Mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições.
"O CD começou a ser pensado em 2009, durante as gravações de Paraíso, em que a música era muito presente, tanto na novela como nos encontros do elenco. As gravações e finalizações aconteceram em 2010, durante Escrito nas Estrelas", explica Nero. A construção do CD consumiu o os intervalos de gravações de três novelas na televisão.
O disco
Vendo Amor, até pelo tema de que trata, é um disco suave, contido, mas não se enganem os que pensam naquele amor romântico, de arrancar suspiros das moçoilas em busca de príncipes encantados. Nero explorou os temas, estudou e escolheu representações de amor de vários modos, como aliás é descrito no título do trabalho.
Há canções próprias e interpretações de músicas amplamente conhecidas, como, o clássico "Carinhoso" (Pixinguinha/ João de Barro). Há também versões pessoais de "Não Aprendi Dizer Adeus", que ficou famosa na voz da dupla Leandro e Leonardo, e "Boa Pessoa" (Luiz Felipe Leprevost e Thiago Chávez), que acaba de ficar conhecida na versão da Banda Mais Bonita da Cidade.
Alexandre Nero refaz as músicas. Trompete e trombone estão presentes em todo o disco e por vezes conferem uma atmosfera marcial ao trabalho. Em outras, acrescido de sanfona e flautim, o clima fica quase circense. Em "Domingos", ele musicou um texto de Domingos de Oliveira, que pode chocar os mais sensíveis.
Vendo Amor é um trabalho para surpreender quem só conhece o ator e para confirmar a competência do experiente músico.