Entre as acusações que sempre me fazem está a de ser um nostálgico irremediável. Pode ser. Outra é que eu uso muito este nobre espaço em retrospectiva, para falar de coisas que já aconteceram.
Não estou tão seguro que seja verdade, mas, de qualquer maneira, hoje vou atacar de futurólogo.
Se eu tivesse que apontar um artista paranaense promissor, aquele que eu acredito que vai fazer bonito num futuro próximo, seria o violeiro curitibano João Triska. Cantor, compositor e arranjador, o curitibano Triska está na estrada desde 2011.
Para mim, o jovem autor é quem melhor tem investigado a verdadeira música rural paranaense, em letras e harmonias muito interessantes. De seu violão já saiu muita coisa bonita, mas a impressão que me dá é que o melhor ainda está por vir.
Uma das canções mais recentes, "Cataratas do Iguaçu", é inspirada na lenda guarani que conta a história de amor entre Naipi e Tarobá e cantada com a profundidade da viola caipira e a intensidade do fandango paranaense, com uma belíssima melodia.
Além desse inconfundível sotaque paranaense, Triska também demonstra estar conectado ao "templadismo". Um movimento que pode ser definido como uma confraria sem fronteiras que une o canto sul do Brasil aos países platinos, Argentina e Uruguai, através daquilo que o escritor e compositor gaúcho Vitor Ramil chamou com grande felicidade de "estética do frio".
Um sentimento criativo comum conectado à terra e às circunstâncias peculiares do território que vai da vastidão do pampa platino às geadas do Brasil subtropical.
Nesse balaio cabe uma brilhante geração de músicos que inclui Dani e Jorge Drexler, o próprio Ramil, Kevin Johansen e muitos outros em torno de um discurso sonoro invulgar.
Milonga
Geograficamente, Curitiba seria a cidade mais ao norte nesse cinturão do frio, mas alguns artistas daqui como Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost, têm conversado com a milonga templadista há algum tempo. E agora o violão "com geada" de Triska faz o mesmo.
Não por acaso, ele será a prata da casa" no imperdível evento de lançamento do documentário A Linha Fria do Horizonte, do diretor curitibano Luciano Coelho que registra o movimento musical.
O filme, aliás, se não é o melhor, é um dos três melhores já produzidos no estado em mais de cem anos de cinema.
Gravado nos invernos de 2011 e 2012 em Porto Alegre, Buenos Aires, Montevidéu e cidades do interior nos três países, o documentário musical é uma rica investigação poética desse universo fascinante.
O DVD será lançado no Teatro Bom Jesus no dia 19 de dezembro em um show que contará com alguns dos personagens do filme como Daniel Drexler, Marcelo Delacroix, Dany López e Pablo Grinjot.
Internet
Quem quiser conhecer o trabalho do jovem violeiro João Triska, pode acessar a página na internet: www.joaotriska.com.
RRRRÁÁÁÁDIO Espanha
É de dar pena a recente mudança de horário do ótimo programa Rádio Espanha, na Radio Mundo Livre FM, um dos campeões de audiência na minha casa. Com apresentação do trepidante Tomas Ramos Filho, o programa garimpava, entre o novo e o clássico, algumas pérolas da música em língua espanhola.
Durante mais de dois anos, o programa foi levado ao ar no nobre horário do meio dia de sábado, a hora em que o ouvinte está dentro do carro indo almoçar, voltando do futebol com os amigos ou começando a preparar a brasa para o assado. De um tempo para cá, o programa foi escondido na noite de domingo, que não combina nem um pouco com a música ensolarada que o Rádio Espanha propaga.
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