O meu Grande Circo Místico

Lá pelos idos de 1984 eu entrei no Guairão para ver um balé e fiquei em êxtase com o que ouvi. Desculpem-me bailarinos do Teatro Guaíra. Sei que vocês são ótimos e fizeram um grande sucesso com esse trabalho, mas eu mal os via naquela noite. As luzes se apagaram e se acenderam e eu só conseguia ouvir. O som que vinha das pouco convincentes caixas acústicas do teatro arrebataram meus cinco sentidos. O Grande Circo Místico foi um dos espetáculos que mais me marcaram na vida.

Dias antes, eu havia comparecido a uma entrevista com o Edu Lobo e outros artistas e técnicos, que falavam sobre o projeto. Ficou na minha nada confiável memória uma certa indisposição de Edu em falar sobre o trabalho e a parceria dele com o Chico Buarque. Depois, muito depois, fiquei sabendo que os dois se desentenderam durante o processo de criação e fiquei imaginando se aquele "mau humor" que percebi não teria sido uma rebarba da rusga ainda fresca e mal curada. Não sei, nunca consegui comprovar o desencontro de opiniões.

O que sei é que para mim ficou marcado o contraste entre o entusiasmo de todos os envolvidos e a quase indiferença do Edu Lobo. Enquanto os outros estavam empolgados, o compositor me pareceu um tanto blasé. Talvez outra explicação seja pela assumida timidez do músico, ainda jovem naquela época.

O fato é que não esperei muito da música que viria a me ser servida. Fui no espetáculo pelo balé. Vieram então os acordes musicais imitando uma abertura de circo, e se sucederam canções inesquecíveis que se tornaram clássicas do repertório musical brasileiro. Pérolas como "Beatriz", "Valsa dos Clowns", "A História de Lily Braun", "A Bela e a Fera", "Sobre Todas as Coisas", "Ciranda da Bailarina" e muitas outras. E as interpretações que também se tornaram clássicas, quase definitivas, de Gal Costa, Tim Maia, Zizi Possi, Jane Duboc, Milton Nascimento… E ainda tudo baseado no grande poema de Jorge de Lima.

Para mim foi uma sensação inesquecível, na medida em que se pode confiar na memória. Ou será que vamos aos poucos fantasiando sobre aquilo que pensamos ter vivenciado. A memória, na verdade, seria uma criação do nosso cérebro?

Mas por que estou escrevendo isso aqui, nesse espaço da música local? Ora, é que neste fim de semana, de sexta-feira a domingo, o Teatro Guairinha receberá o espetáculo Cantando o Grande Circo Místico, em homenagem aos 45 anos do Balé Teatro Guaíra, comemorados em maio.

O espetáculo musical tem direção geral e cênica de Rodrigo Fornos, direção musical e arranjos do maestro Vicente Ribeiro e as canções serão interpretadas por artistas paranaenses. Estão escalados André Dittrich, Ane Adade, Bernardo Bravo, Beth Lopes, Fernanda Sabbagh, Freddy Branco, Iria Braga, Levi Brandão, Mauricio Vogue, Rodrigo Barros Del Rei, Rodrigo Fornos e Suzie Franco, nas interpretações, acompanhados por Alonso Figueiroa (acordeão), Fabio Cardoso (piano), Fernando Rivabem (bateria), Gabriel Schwartz (flautas e flautim), Sandro Guaraná (baixo) e Vicente Ribeiro (violão).

Catarse de Thayana

A cantora e compositora Thayana Barbosa está arrecadando colaborações pelo site Catarse para a campanha de lançamento do CD Mar de Dentro. O trabalho autoral, que se iniciou em 2010, já está gravado, mixado e foi para a fábrica para ser prensado. O disco tem data marcada para o lançamento, dia 8 de agosto, no Teatro do Paiol.

A artista pede R$ 8,8 mil para o trabalho de pagamento dos músicos, divulgação do show e CD, cenário, figurino e ensaios. Até o momento em que escrevia essa coluna, ela havia arrecadado R$ 7,45 mil, e o prazo se encerra no dia 5 de agosto. As colaborações partem de R$ 15, com direito a brindes, e quem quiser apoiar pode ir ao site do Catarse (www.catarse.me/pt/thayanabarbosa).

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