Clementina de Jesus, Jair Rodrigues, Curtis Mayfield, James Brown, Dorival Caymmi, Wilson Simonal, Sly and Family Stone, Francisco Alves, entre outros. Essa seleção estranha de influências é citada pelo músico Otto Nascarella, em sua página no My Space (http://www.myspace.com/ottonascarella ). Ele é um curitibano que há alguns anos transferiu-se para Londres. Desde quando morava aqui, já era um aficionado pela música negra, pelo samba rock, o soul e o funk e, como se vê pela lista de influências acima, continua trilhando o mesmo caminho. Em Londres, fundou com companheiros brasileiros e ingleses a banda Saravah Soul, que acaba de lançar seu segundo disco, pelo prestigiado selo Tru Thoughts Records.
O primeiro disco pelo mesmo selo foi lançado em 2008 e tem o nome da banda. O segundo CD teve lançamento mundial agora em julho e tem o ilustrativo nome de Cultura Impura: "A nossa cultura já nasceu impura,/ já nasceu toda misturada", diz a letra da música "Funk de Umbigada", que reflete bem o espírito do grupo e do disco. "Mas não é por isso que eu vou esquecer a nossa história consagrada. Nossa tradição merece atenção", continua.
Samba, rock, funk, soul, pífaros, zabumba, berimbau, guitarras, baixo, bateria e pitadas eletrônicas, que fazem o underground londrino pular e se requebrar com muito ritmo dançante. No site da gravadora, o músico curitibano é descrito da seguinte forma (em tradução livre): "O talentoso frontman Nascarella, de Curitiba, Brasil, combina o carisma de James Brown com estilos modernos da breakdance, enquanto toca guitarra e pandeiro". É uma boa descrição para a performática apresentação de Nascarella, que parece ter mola nos pés e nenhum osso no corpo quando dança.
Com letras em português e inglês, além de algumas músicas instrumentais, os dois discos devem fazer os ingleses dançarem e dar um nó na cabeça deles. Afinal, como saber do que se está falando ao ouvir a música "Mussum", dedicada ao pândego músico e humorista brasileiro? Em "Milk and Mangoes", mistura-se um baixo insinuante (do excelente Matheus Nova) a um naipe de sopros com levada jazzy latina, mas com direito a momento solo de berimbau.
Em "Alforria", a banda aparece mais funkeada, com levada mais parecida com o primeiro álbum, de 2005, um encontro entre Tim Maia e James Brown, com mediação de Ike Turner. Mais destaque para as guitarras e sopros marcados. Já em "Da ne Nim", a influência é bem brasileira, contrastando com "Fire", uma versão da clássica música de Jimi Hendrix, bem mais rock, mas com toque carnavalesco, de frevo. O refrão original diz "Let me stand next to your fire", que vira "vem brincar perto do fogo". Os puristas vão torcer o nariz, mas ficou divertido. Afinal, "A nossa cultura já nasceu impura,/ já nasceu toda misturada".
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