Aqui eu vou falar sobre música, mas queria mesmo é falar sobre os protestos no Brasil. Esses que nos colocaram na rota internacional dos indignados e do Occupy. Tem gente que diz que não entende o que querem os indignados. E isso não acontece só no Brasil. Aconteceu em Paris, em Nova York, na Turquia, em Londres, em Estocolmo. É como diz a música "Cofre", parceria de Luiz Felipe Leprevost com Troy Rossilho, que abre o quinto álbum do músico, Cine Luz: "Todo mundo tem motivo/ todo motivo é banal/ toda banalidade dá seus uivos/ como se fosse a coisa mais urgente do mundo...".
Ao contrário do que pensam os conformados, os protestos não são só pelos vinte centavos do aumento do ônibus, esse dinheiro de troco de uísque do Arnaldo Jabor. Tem outros motivos banais que vão se acumulando e subindo mais rápido que água de inundação. Tem o mensalão e toda a corrupção que ele representa e que se espalha nos gabinetes dos três poderes. Tem o Renan na presidência do Senado, tem o Feliciano na presidência da Comissão dos Direitos Humanos, as benesses exageradas para os políticos, os magistrados e os apaniguados em cargos de comissão ou recebendo jetons em dispensáveis postos nos conselhos administrativos de empresas públicas.
Quanta sujeira. É por isso que aqui eu falo de música e não da politicalha, embora para mim as manifestações de rua pareçam arte tão bela quanto os desenhos da Maureen Miranda no disco do Troy Rossilho. Sim, eu queria estar com ela nos teatros e nas ruas, junto com as Uyaras e as Anas. "Preciso de vozes/ cheiro humano com risada/ preciso de vida/ pra descansar a morte", como diz a pareceria musical de pai e filho Cesar e Troy Rossilho.
Por isso não falo aqui do aumento da inflação e da aparente impotência do governo para domar a economia. Também não vou falar da violência policial que se equipara à violência do bandido e da nossa convivência cada vez mais íntima com a insegurança. Isso é uma tendência internacional, não é só do Brasil. É global feito a pesquisa do grupo Terra Sonora, que lança no Teatro do Paiol, de 21 a 23 de junho, o seu sexto CD, Distâncias, que traz música étnicas de diferentes regiões e épocas.
Catarse
Portanto, ao invés de falar da avalanche de impostos municipais, estaduais e federais que nos impõem em troca de serviços públicos de péssima qualidade, eu prefiro falar aqui de solidariedade e de música.
O excelente Trio Quintina comemora 15 anos de estrada com muitos projetos. A começar pelo show de amanhã, 20, no Teatro do Paiol, que também marca o início da campanha de arrecadação de fundos pelo site Catarse para a produção de dois CDs coletânea e mais um DVD ao vivo e inédito com a retrospectiva da carreira até aqui. É um dos melhores grupos musicais brasileiros em atividade e você pode colaborar com eles. É só entrar no Catarse (catarse.me/pt/trioquintina3ciclos) e escolher a sua forma de doação. Quem apoiar receberá um brinde.
Pira
Então, para que eu vou tentar dar explicações aqui sobre as manifestações de rua se em vez de justificálas com as más ações do PT, do PSDB e do PMDB, que ora está com um ora com outro, dependendo de quem esteja no poder, eu posso falar da nova banda Pira, que reúne Henrique Steffen (guitarra), Allan Branco (baixo) e Felipe Souza (bateria).
Assim como nos protestos, que reúne gente de todas as idades, gêneros, etnias, gostos musicais e times de futebol, eles fazem uma mistura de som não apenas reunindo, mas integrando e harmonizando blues, rock, acid jazz e brasilidades. Eles, da Pira, acabam de lançar um CD demo, que tem a participação especial de Paulo Branco e traz um som instrumental envolvente e empolgante que pode servir de fundo musical para uma geração de indignados.
Se fosse falar dos protestos, não teria espaço para falar do 3 Palavras, novo CD da Leis do Avesso, nem do Unique Salad Musique, reestreia de Renê Bernuncia, ex-integrante do Boi Mamão e Sugar Kane, depois de oito anos sem gravar. O espaço e a vida são curtos e, por isso, é preciso protestar mais e falar e fazer mais arte e política. Afinal, o povo unido é gente pra c***.
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