Uma vez, eras geológicas atrás, quando eu tinha uma “coluna” num site amador que o meu irmão tinha criado, eu já escrevi sobre achar meio boba essa frase que agora eu estou usando de título. Porque, veja bem, se ninguém é X, então X é “normal”. E se X nesse caso é igual a “não ser normal”, então “não ser normal” é…. suspense… Normal!
Ergo, como diziam os lógicos… Logo, “todo mundo é normal”!
Mas, picuinhas analíticas à parte, eu estava hoje era pensando numa coisa que o meu sobrinho/afilhado #1 (hoje eu tenho outro sobrinho/afilhado…), o Matheus, disse no Facebook: que ele, quando falava consigo mesmo, construía sempre as sentenças em primeira pessoa plural, tipo “a gente precisa parar com isso, Matheus”. E ele, que é um camarada com grande senso de humor, queria saber se era “normal” isso, ou se os outros conversavam sozinhos em segunda pessoa singular, tipo “Você é o máximo, Matheus”.
Ali, no post dele, era só uma brincadeirinha, claro.
Mas eu, e o meu ranço acadêmico-filosófico-linguístico (e quando o cara enfileira três proparoxítonas, e monta um composto com hífen, meu… a coisa vai ficar séria!) ficamos aqui pensando…
Porque é uma questão mesmo, né?
Tipo, todo mundo fala sozinho. Conversa.
Ou será?
Porque eu mesmo acho que falo às vezes na segunda, às vezes em primeira, tipo “eu preciso comer menos doce”.
E falar sozinho em primeira pessoa é só isso: “falar” sozinho. Sem um destinatário.
Só que é claro que, nesse caso, o que você está fazendo é como que jogar uma mensagem numa garrafa, pra você mesmo. Você fala (em voz alta ou não, tanto faz) como se estivesse falando sozinho mesmo, mas com a consciência de que você, uma outra parte de você, um “tu”, está ali de orelha atenta.
Quando você se dirige a você mesmo na segunda pessoa, por outro lado, você assume o papel deste “outro” imaginário, e como que se vê de fora. Isso me parece, como exercício de “empatia”, muito mais interessante. Muito mais filosoficamente rico.
Quando você se dirige a você mesmo na segunda pessoa, por outro lado, você assume o papel deste “outro” imaginário, e como que se vê de fora. Isso me parece, como exercício de “empatia”, muito mais interessante. Muito mais filosoficamente rico.
Mas e o que é que rola quando você se pensa coletivamente? Como um “nós”. Você assumiu o papel de unir de vez aquele destinatário àquele emissor. Você integrou de vez esses dois lados, o interno e o externo, observador, e eles estão tomando decisões juntos.
É bem interessante mesmo.
Mas e eles se dirigem a quem?
A eles mesmos?
A um terceiro ausente?
Cadê esse destinatário?
Qual dos jeitos de a gente lidar com a nossa solidão é o mais solitário?
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