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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Dando uma sapeada na “Wikipédia” pra botar aquela raspa de limão no caldo meio rançoso da memória quarentona, eu vi que eu li 17 livros de Umberto Eco. Que eu lembre…

Todos os romances e uma cacetadinha de coisas sobre linguística, literatura, tradução. Além das pérolas que são os dois volumes do “Diário Mínimo”: coisa de humilhar qualquer praticante da nada nobre arte da crônica…

Se você leu alguma coisa dele, já embarcou também na maré de tristeza da perda de uma mente raríssima. Aliás, mais uma vergonha aí, povo do Nobel!

Agora se você não leu, bem podia começar.

Eu mesmo estou fazendo a orelha de uma reedição de “O pêndulo de Foucault”, e acho que todos os romances acabam saindo com capa nova e tal. Ótima chance de conhecer um pouco da ficção de entretenimento (sim! ele nunca deixou de ser divertido e cheio de suspenses) mais inteligente que já se escreveu.

Mas, se você não puder ler nada maior: tenta ler pelo menos o último ensaio de um livrinho genial chamado “Seis passeios pelos bosques da ficção”.

É uma coisa mais que bem-doida, sobre como uma história inventada por um romancista, modificada por vários outros (uma história que nunca teve qualquer grau de realidade), acabou virando uma espécie de “lenda urbana” muito antes da internet, e gerando o mito de um documento, “O protocolo dos sábios do Sião”, que nunca existiu e no entanto acabou dando motivos e justificativas pra imensa maioria das barbaridades anti-semíticas dos séculos 19 e 20.

Outro italiano saudoso, Luigi Pirandello, escreveu uma “Advertência quanto aos escrúpulos da ficção”, onde mostra direitinho que quem tem que se preocupar com “verossimilhança” é ficcionista: a realidade é totalmente despudorada.

Eco, em seus romances (“O cemitério de Praga”, por exemplo, parte do mito do “Protocolo”) mostrou que inventar realidades também pode ser perigoso demais, pode alterar o mundo.

Bom mantra pra um romancista?

Claro.

Mas excelente maneira de pensar duas vezes sobre muito do que se lê online. Com ou sem Eco.

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