Elegantia, em latim, era uma palavra ligada ao verbo eligere, escolher bem. Ou seja, elegante era quem tinha feito boas escolhas.
Não sei a quantas anda a frequência de uso da palavra hoje, no Brasil. Acho que não tenho mais visto tanto no ambiente em que, na minha infância, era o mais comum: ou seja, referente a roupas, a moda. E claro que, nesse ambiente, eu entendo lhufas de elegância.
(Aliás, essa coisa da frequência é interessante. O Google tem uma ferramenta superbacana de análise que te permite ver os altos e baixos da presença de uma palavra ao longo dos séculos. Dia desses escrevo sobre isso aqui. Ainda não existe em português, mas “elegance”, em inglês, tem um megapico de uso entre o século dezoito e a primeira metade do dezenove. Aí, crianças, o romantismo e a modernidade acabam com a elegância!)
Mas, pra mim, que não sou lá uma criatura de muitas referências visuais, a definição pura e simples de elegância, tipo o destilado, o óleo essencial, a fotinho que tem no verbete “elegância” do meu vocabulário mental é o senhor Stéphane Grapelli, violinista francês morto em 97 aos 89 anos.
Eu tive a sorte de ver o show do Grapelli no Free Jazz Festival, acho que de 87 ou 88, que na época era transmitido na TV, tipo em horário plebeu (outros tempos, crianças…). Foi uma revelação.
Tenho impressão que se ele fosse vivo ia fazer uma versão marota até de “Baile de Favela”.
Ali ele já estava velho. Gordo, com uma camisa florida ridícula, com o violino semidesaparecido debaixo de uma papada frouxa e aquele narigão pontudo quase roçando o arco.
Mas a música…
Foi onde eu conheci o dito Jazz Cigano, que andou tendo até revival aqui em curitiba, né?
Mas acima de tudo foi onde eu conheci o toque de Midas de Grapelli.
Ele era essencialmente um filtro de elegância. Tipo uma função matemática de resultado invariável: coloque qualquer coisa numa ponta (qualquer melodia, sublime, normal ou banal) e o resultado, do outro lado, era uma versão oitocentas vezes mais cool, mais refinada, mais gostosinha da mesma coisa.
Tenho impressão que se ele fosse vivo ia fazer uma versão marota até de “Baile de Favela”.
E, como na etimologia lá de cima, são “escolhas”. O espaço do “intérprete”, afinal, é estreito, mas pode ser bem aproveitado. Com microvariações, aquela espera, aquela pausa, aquele nota escorregada, aquele ornamento… Séries de escolhas, infinitas, potencialmente inumeráveis, que depois de tocadas com aquela elegância, parecem ser a única resposta possível.
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