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 | Ilustração: Ricardo Humberto/
| Foto: Ilustração: Ricardo Humberto/

Já falei aqui das guerras de grafitti nos corredores da Reitoria. Dia desses alguém meteu lá um estêncil com a pergunta: “aonde você esconde seu preconceito?”.

Até que demorou pra um aluno de letras (imagino) ir lá e comentar, a lápis, que como se tratava de local e não de destino de movimento, deveria ser “onde”. E aí o curioso é que NÃO demorou pra alguém acrescentar que o que importava ali era a ideia, não a norma padrão da língua.

Vejamos.

Eu, de minha parte, endosso o valor retórico da pergunta. Acho que todos aqui escondemos, sim (e normalmente de nós mesmos), o nosso preconceito. Eu, de minha parte, discordo de rabiscar patrimônio público, por princípio, mas tenho curiosa simpatia pelos grafiteiros em guerra.

Já sobre a norma padrão, aiaiai… Claro que aquele “aonde” me incomodava, desde a primeira vez que vi o estêncil. Claro que, até por isso, ele perdia um pouco do poder de instigar reflexões éticas. Eu via a frase e só enxergava o erro.

É como um orador que tenha uma mensagem importante mas uma meleca pendurada no nariz. Aquilo desvia a atenção do que é importante. A norma padrão não é a salvação de lavoura nenhuma. Ela é, sim, em alguma medida uma série de construtos autoritários, descolados da realidade. Exatamente como a etiqueta. Exatamente como a higiene pessoal aparente.

É uma convenção social e, como todas elas, é extremamente poderosa.

O que importa ali é a mensagem? Claro.

Mas o que há de errado em cuidar da forma da mensagem? Você fez um estêncil bonitinho, pensou na cor, pensou na fonte, pensou na diagramação. Todas essas coisas são em alguma medida imposições da sociedade burguesa. Exatamente como a norma culta da língua. Mas você reconhece que elas podem te ajudar a levar a tua mensagem pra frente.

Cuide das tuas palavras.

Aliás, já te digo que, seja você do grupo “Fora, Temer” ou do grupo “Tchau, querida”, eu não respeito a tua posição se você não usar aquela vírgula de vocativo entre as duas palavras. (Ironia, ok?)

Ela muda alguma coisa? Não, provavelmente.

Ela me faz desentender a tua mensagem? Claro que não.

A vírgula de vocativo é como (em grande medida) a acentuação gráfica. Ela só serve pra mostrar que você sabe usar vírgula de vocativo. Oooou seja: que você foi à escola. Que você lê. Que você tem uma formação que te leva a saber cuidar tanto do que você fala quanto de como você fala. Que você dá MAIS (e não menos) atenção à mensagem que quer veicular do que à cor do adesivo em que ela está impressa.

Foi meu momento Tia Marocas?

Desculpa, gente.

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