Em 1855 um camarada chamado Pedro Carolino (sim, desculpa, mas ele era português) teve a brilhante ideia de publicar um “guia de conversação” para ensinar os compatriotas a falar inglês.
Pequeno problema?
Ele não sabia inglês.
Mas não seria uma bobagem como essa que deteria o ímpeto empreendedor do chapa. Ele catou um outro guia, feito para ensinar francês aos portugueses e, por meio de várias traduções indiretas, passou tudo pra um inglês meio improvisado.
Nem preciso dizer que o livro, que se abre com uma sessão de vocabulário divida em partes como “of the world” (ou “ove thi uerlde”, na pronúncia recomendada) e que elenca entre as “profissões” coisas como “Chinaman” não fez lá muito sucesso em Portugal.
Mas tudo mudou de figura quando o pessoal da Inglaterra descobriu a obra.
Em 1883 o livro saiu publicado em Londres com o título sacana pelo qual é conhecido até hoje: English as she is spoke.
No mesmo ano sai a edição americana, com prefácio de Mark Twain, que a gente quase consegue imaginar com as quatro patinhas pro alto enquanto lia, e que descreveu assim esse triunfo editorial: “Ninguém poderia aumentar o absurdo que é este livro, ninguém consegue imitá-lo bem, ninguém poderá ter esperança de fazer igual: é um livro perfeito.”
Se a gente pensar que o coitado do Carolino chegou a ser processado pelo autor do guia francês original, que ele, realmente de boa fé, creditou como co-autor de sua obra e que no entanto saiu gritando pelamordeudeus me inclua fora dessa, ora, a frase do Twain é uma espécie de consolo, né?
Há no mundo trocentas piadas tipo “the book is on the table”, mas nada, NADA chega às alturas, à perfeição mesmo que é a leitura do livro de Carolino.
Eu, aqui, fico rindo sozinho só enquanto lembro.
É verdade que você precisa RE-verter as coisas do inglês pro português pra ver o sentido (e às vezes tem que passar pelo francês pra imaginar qual foi o sádico que sugeriu aquela versão). É verdade que a plena beleza de Do is so kind to tell me it como pretenso equivalente de “tenha a bondade de mo dizer” só se revela a quem sabe seu inglês. Aquele: o de verdade, que o nosso amigo tão tonitruantemente ignorava.
Mas uns anos atrás a Casa da Palavra lançou essa maravilha do surrealismo que é uma tradução brasileira da tradução pro inglês do guia francês dos portugueses.
Piada de brasileiro?
Não sei. Mas ainda é divertidíssimo e deve dar pra achar em sebo: se chamou O novo guia da conversação em portuguez e inglez, com a grafia do original!
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