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 | Ricardo Humberto
| Foto: Ricardo Humberto

O jovem baterista Richard Starkey precisava de um nome mais caubói. Como gostava de usar anéis (“rings”) e queria ser um astro (“star”), acabou virando Ringo Starr.

George Harrison, além de “O Beatle tranquilo”, era simples. Sempre se chamou apenas George Harrison. Paul McCartney na verdade se chama Jim. James Paul McCartney.

John Lennon era John Winston Lennon. Quando morreu, tinha trocado pra John Winston Ono Lennon.

Coisa que me agrada, porque estou prestes a citar uma letra de Lennon como fonte de sabedoria, e como Winston e Ono ele ganha esse ar aristocrático e… zen…?

A frase vem da música “Beautiful Boy”, do último disco que Lennon lançou em vida. Ei-la (ela é bem famosa, então nem é pra fazer suspense): “A vida é o que te acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.

E no fundo parece que Lennon copiou a ideia de um artigo de 1957 do cartunista Allen Saunders.

Tudo bem. Não muda nada.

Como dizia T. S. Eliot, poetas fracos imitam; poetas fortes roubam mesmo.

*

O meu caso, pra ter citado o Lennon (Saunders?), é o seguinte.

Na semana que passou houve a décima-nona edição da Semana de Letras da UFPR, brilhantemente organizada por um grupo de alunas geniais. O evento teve abertura do meu orientador de doutorado (trívia acadêmica: a gente nunca diz meu “ex” orientador, eles meio que são pra sempre…), professor José Luiz Fiorin, falando sobre a importância de um curso de Letras.

A Semana sempre me dá nostalgia.

Eu tinha acabado de entrar como professor na UFPR quando ajudei a organizar a primeira edição, no pátio da Reitoria, com umas três horas de duração e um público de dezenas de pessoas. Hoje, nos sete dias, em três períodos, há dezenas de palestras, convidados externos, centenas de apresentações de trabalhos… Lindo.

Mas e o Lennon, tio?

É que eu lembrei uma coisa, por causa disso tudo.

Que em 1990 eu estava no “cursinho”, com “planos” de prestar vestibular pra biologia. Era um sonho de criança. Na verdade eu devia mesmo era ir pro conservatório de música. E fui.

Mas durante aquele ano eu tive um caderno (sim, um só). No verso da capa eu mantinha uma lista de palavras gregas e latinas que ia aprendendo. No verso da “quarta-capa” ficava a lista dos romances que eu queria ler a partir de 91.

Era a vida acontecendo em segundo plano.

Em 1993 eu estava na UFPR, cursando Latim e Teoria Literária, no meu primeiro ano no Curso de Letras.

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