Quinta-feira foi o Bloomsday, o dia em que os leitores do “Ulysses” comemoram o romance que se passa (quase) todo em 16 de junho de 1904.
Por isso tanto Joyce por aqui.
Mas hoje vamos por tortuosidades.
É que eu passei esse primeiro semestre envolvido com o NeRO (núcleo de estudos do romance), uma ideia do professor Pedro Dolabela Chagas. Na terceira terça-feira de cada mês a gente se reúne na UFPR. Tem sido interessantíssimo, e é aberto a quem quiser aparecer.
Terça que vem a gente vai comentar “O Leopardo”, de Lampedusa, que eu já mencionei aqui.
Promete…
Mas eu já posso adiantar que outra leitura vai acabar sendo mencionada. É a trilogia de Hermann Broch chamada “Os sonâmbulos”, que eu li pra participar de uma discussão com alunos do alemão.
As duas obras são impressionantes, e em vários sentidos a de Broch é justamente mais atordoante, se a gente contar que ela foi escrita no comecinho da década de 30, e é assustadoramente “moderna” e radical. Lembra Beckett, lembra Pynchon. Coisa bem doida mesmo.
Já “O Leopardo”, dos anos 60, é consideravelmente “antigo”, tanto no tema (a história se passa cem anos antes), quanto na forma, que lembra mais Proust e Tolstói que as grandes experiências selvagens do modernismo.
Mas, lendo um depois do outro, o que foi me chocando foi perceber o quanto me incomodava uma coisa que a gente normalmente não aborda em textos “sérios”. Broch tem um cérebro do tamanho do Canadá, um virtuosismo formal acachapante, angústia a dar com o pau e um certo apocalipsismo sócio-político que anda ainda muito em voga. Mas fiquei com a impressão de que ele não tem muito “coração”, sabe como?
Esperança?
Amor?
Essas coisas bregas.
E Lampedusa é todo coração. Mesmo quando lamenta o “tempo perdido”, ele é só delicadeza.
E eu descubro que prefiro os autores “cordiais” (lembrar que quando Sérgio Buarque de Holanda falou em “homem cordial” estava pensando nisso: um homem com coração, cordialis, em latim). Longe de mim curtir visceralismos desbragados. Ok.
Mas, sei lá, tipo intelectualismo denso sim, pero sin perder la ternura…
Muito espantaria ao meu eu de tipo 20 anos de idade me ouvir dizendo isso. Claro. Todos fomos cínicos aos 20.
Muito me espantaria eu aos 20 se soubesse que além de tudo iria aprender isso com o autor de quem eu mais fugia na época: o “revolucionário” James Augustine Aloysius Joyce, e com sua maior criação, o mais fofo dos homens, Leopold Paula Bloom, que naquele 16 de junho mudou a literatura pra sempre. E mudou este que vos colunisteia…
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