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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

O repertório da música de concerto está cheio de peças mais ou menos ‘obrigatórias’, que todo mundo que toca este ou aquele instrumento um dia estudou, e meio que todo mundo um dia vai tocar em público.

Cada instrumento, cada formação de câmara (quartetos, trios, duos), e mesmo as orquestras conhecem esse repertório meio ‘obrigatório’. Muita gente foge dele (é uma maneira inclusive de marcar um perfil). Muita gente passa por ele como deve, o que hoje em dia sempre envolve um domínio técnico muito acima do que se via uma geração atrás, o que, quando somado a uma musicalidade bem desenvolvida, sempre acaba garantindo versões interessantes.

Porque a questão é que ouvir a vigésima sétima gravação de uma obra fundamental como as Variações Goldberg, de Johann Sebastian Bach, vai ser sempre interessante.

Agora, o Santo Graal pros intérpretes adota duas formas. Uma é quando alguém desencava uma peça que andava fora de moda, ou que era pouco conhecida, e acaba ‘criando’ um novo ponto de passagem obrigatório. A outra é quando alguém pega uma dessas peças compulsórias e de repente faz ela soar tão diferente, tão outra, tão nova, que faz com que você não consiga mais ‘desouvir’ aquilo, e te obriga a ouvir todas as versões futuras com a tua imagem da peça devidamente formatada por aquela audição meio… revolucionária.

O pianista canadense Glenn Gould, na verdade, fez meio que as duas coisas com as Variações Goldberg, que andavam meio esquecidas nos anos 50 do século passado, e que hoje praticamente são ‘dele’ na mesma medida em que…sei lá… ‘Gloomy Sunday’ é da Billie Holiday. (Aliás, nem vamos falar do peso que tem essa ideia do Santo Graal pros cantores de jazz.)

Heitor Villa-Lobos, que teria feito aniversário agora em março, é pai de boa parte dessas peças obrigatórias no minguado repertório do violão dito ‘clássico’. Ele é provavelmente o melhor violonista dentre os grandes compositores, ou o maior compositor dentre os bons violonistas. E esse cruzamento rendeu 23 peças pra violão solo que virtualmente todo mundo estuda. No mundo inteiro.

Uma, e talvez a mais “brasileira” é o primeiro dos seus “Choros”. Até eu toquei isso em concurso (fiquei em segundo, caso você queira saber).

Pois não é que dia desses, ouvindo uns violonistas que mal eram nascidos quando eu parei de tocar, eu me vi literalmente “surpreso pela beleza”, e percebi que ia ter que mudar a minha ideia daquela peça, quando ouvi uma moça (o primeiro lugar naquele meu concurso também foi uma mulher), COREANA, pequenininha, do tamanho de um botão, mãozinhas minúsculas, parece que ela podia dormir no estojo do violão se quisesse…

Se chama Kyuhee Park, tem 31 anos. Tem no YouTube.

No mês da mulher, veja, de presente de aniversário pro seu Villa.

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