| Foto: Ricardo Humberto/

Semana passada eu mencionei a ferramenta de análise de uso de palavras do Google. Houve, depois disso, centenas, milhares, milhões de pedidos pra eu especificar melhor.

CARREGANDO :)

Teve gente acampando aqui na porta de casa (como vocês descobriram o meu endereço?). Teve gente oferecendo dinheiro. Teve assédio nas rampas da reitoria. Teve uma pessoa que alugou um aviãozinho com uma faixa “favor explicar melhor a ferramenta do Google”…

Mesmo uma pessoa insensível como eu pode ceder a certo grau de pressão. Então…

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O negócio se chama N-Gram Viewer, e está no ar (gerando vícios e fascínios em nerds linguísticos) desde 2010. Se você quiser uma introdução bem didática, procure uma Ted Talk chamada “O que aprendemos de 5 milhões de livros”.

Rapidinho, é isso: é uma ferramenta que, se você dá uma palavra, gera um gráfico que mostra a presença da dita em cada período de tempo, entre 1500 e o começo do século XXI.

Podem ser substantivos, expressões, frases, nomes próprios. Você joga ali e o Google verifica a presença no seu monstruoso córpus de livros digitalizados.

Jogue a palavra “war” (guerra) e mesmo sem um livro de história você vai ver os anos da Primeira e da Segunda Guerra mundial.

Jogue “Leopold Bloom”, personagem principal do Ulysses, e você vai ter uma mini-história da recepção do romance de Joyce.

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Jogue “Brazil” e você vai ver um curioso pico exagerado em torno de 1941. O que seria ele? O sucesso de “Aquarela do Brasil” (1939) em terras gringas.

Como mostram os criadores do programa naquela palestra Ted, dá até pra fazer sociolinguística, ou sócio-história na tal ferramenta. Jogue duas formas do mesmo verbo (é esse o exemplo que eles dão) e você vai ver quando a que era menos comum se torna a mais comum, ou seja, vai presenciar a mudança linguística. Joque a sigla “Ms” e você vai ver primeiro seu uso como abreviação de “manuscrito” no século XIX e, depois, uma breve história do sucesso da reivindicação das feministas de não usar mais Mrs e Miss (senhora e senhorita), mas uma forma que não ligasse a mulher ao casamento.

Como com toda “ferramenta”, a fertilidade do uso vai depender da criatividade do emprego. E a interpretação dos dados também vai depender de certa inteligência, e pode render histórias diferentes para observadores diferentes.

Mas o potencial é bem grande, viu?

Porque, além de tudo, eles te permitem comparar duas palavras no mesmo gráfico.

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E por que será que o comecinho do século XVII é o único momento em que “hate” (ódio) ganha de “love” (amor)?

E veja a dimensão da luta das mulheres por igualdade comparando, década a década, a diminuição da diferença de frequência das palavras “man” e “woman”… e o quanto ainda falta…