Escrever essas crônicas semanais já é sempre se fazer essa pergunta. Será que eu tenho alguma coisa que valha a pena as pessoas lerem? Será que ler isso aqui justifica o empenho do tempo de vida de alguém?
É claro que ou eu tenho alguma confiança nesse “interesse” ou sou tão egoicamente desinteressado dos outros que nem penso no assunto. Não fosse por isso eu não aceitava estar aqui.
Mas no fundo acho que é uma mistura das duas coisas. Eu meio que curto falar (sozinho?) das coisas que me interessam. Logo, pode-se dizer que eu tenha, sim, esse lado meio monstro autistoide que nem está aí pro leitor. Por outro lado, eu tenho alguma convicção de que quase todos os professores e autores que me tocaram, que me mudaram mesmo na vida, falavam mais ou menos a partir dessa posição. Deixavam claro que estavam simplesmente curtindo pensar aquelas coisas, comunicar aquelas conclusões, falar daqueles assuntos e mostrar a existência daqueles fatos.
A esperança, portanto, é que eu estar me divertindo possa gerar também o interesse de alguém. Eu fico sempre pensando, pra explicar o que é essa “postura” minha (mesmo ao dar aula) na frase-bordão de Goulart de Andrade lá nos anos do programa Comando da Madrugada: “vem comigo”. É a minha esperança, que os alunos e os leitores encontrem motivação suficiente pra “virem comigo”, e que eles de repente consigam prestar atenção em alguma coisa legal pelo caminho.
Foi por isso, também, que o meu livro sobre o Ulysses acabou tendo o subtítulo “uma visita guiada”. É isso que eu acho que eu posso fazer. Ir falando do que me encanta e esperar que as pessoas continuem vindo atrás de mim pra tentar ouvir.
Mas a coisa de repente muda de figura esses dias quando o Rogério Pereira me convida pra participar de um evento ligado à Bienal de Curitiba, agora em novembro. Aceitei, claro. Vai ser legal. Participar de uma mesa com o grande Bernardo Carvalho. Tomara que eu não passe vergonha.
Além da mesa, o Rogério queria um conto, inédito, pra sair numa publicação voltada aos alunos da rede pública. Curti também. Grande privilégio.
Mas, como parte da promoção do evento ele queria uma frase, que aparentemente vão sapecar em estações tubo e tal.
Ui.
Eu estou looonge de ser frasista. E a minha “obra” é um livrinho de contos e essas colunas!
Pensei, então, no que é que eu queria poder dizer pra alguém parado numa estação tubo, indo pro trabalho, voltando pra casa. Tentei ir além do “vem comigo nas minhas piras” e pensar numa coisa que fizesse sentido, que tivesse chance de tocar alguém por ter sido pensada só pra isso.
Ui.
O que é que você diria à cidade se tivesse a chance?