| Foto: Ilustração: Ricardo Humberto/

Existe uma conhecida teoria na linguística, a dita Hipótese Sapir-Whorf, que estabelece a ideia de que os idiomas que a gente fala são como que “lentes” que determinam a nossa percepção da realidade. Sabe como? Aquela ideia bem sedutora pra poetas e conversadores de bar de todos os tempos, de que o vocabulário e as estruturas da nossa língua nativa moldam o mundo que a gente vê.

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E lá vem alguém falar que só se pode filosofar em alemão. E aí alguém falar da ideia de intraduzibilidade. E sempre aparece um pra mencionar “saudade”.

Bom. Primeiro que saudade tem tradução sim. E em MAIS de uma língua. Segundo que um idioma não ter uma palavra pra dizer algo não quer dizer que eles não consigam dizer aquilo.

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Enfim.

O fato é que faz tempo que a Hipótese está bem desacreditada entre os linguistas, ao menos em sua versão “forte”… (Se você quiser saber mais, procure a brilhante tese de doutorado do Rodrigo Tadeu Gonçalves, no banco de teses da UFPR, ou o livro ‘The Language Hoax’, de John McWhorter.)

O mundo, como diz o subtítulo do livro do McWhorter, tem a mesma cara em todas as línguas.

Mas isso não tira nada do encanto de se aprender um idioma novo e ver como as coisas são feitas por lá.

Eu ando estudando dinarmarquês (nem pergunte) e é curioso saber que uma língua de uma nação civilizada não tem uma palavra para dizer “obrigado” (vikings!). É interessante ver como se vira um idioma que não tem um futuro verbal (!). É no mínimo bacana descobrir que eles se cumprimentam dizendo “hej” quando chegam e “hej hej” quando se despedem. É fofo saber que uma maneira de se despedir dos colegas no trabalho, por exemplo, é “tak for idag”, literalmente “obrigado por hoje”.

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É legal ficar vendo aquele jeito germânico de formar palavras por composição, em que morango é “jordbær”, ou seja “frutinha da terra”, e talvez é “måske”, “pode acontecer”.

É divertido, também, encontrar aquelas coisas que a gente deprecia no português brasileiro como “degradações”. Afinal, se o nosso capiau diz “eu amo, cê ama, ele ama, nós ama, cês ama, eles ama”, ele ainda está um grau à frente de Søren Kierkegaard, o filósofo, que diria “jeg elsker, du elsker, han elsker, vi elsker, I elsker, de elsker”… sem NENHUMA variação verbal!

E o dinamarquês é uma língua indo-europeia, parente bem próxima da nossa. Eles DEVIAM ter essas flexões verbais!

A língua muda o mundo? Não. Mas saber uma a mais amplia pacas o teu universo.