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 | Ricardo Humberto/
| Foto: Ricardo Humberto/

Semana passada teve Bienal de Quadrinhos. Passei lá com a minha filha e já de cara vi gente da minha idade, barriguda e careca (como eu), de camiseta do Lanterna Verde…

Claro que é bacana isso do orgulho nerd hoje em dia. Claro que, meu, seja o que quiser!

Mas eu não consigo deixar de pensar que tem ali uma coisa tipo meta-meta-irônica. Que aquele cara está “citando” Sheldon Cooper, que por sua vez é uma “referência” a certo tipo de nerd que, esse sim, usa a camisa do lanterna verde com orgulho e tal. Com certo “desafio”.

Sabe como? Ironia da ironia…

Estava pensando nisso porque saiu agora “L’Azur Blasé”, novo livro de poemas do Guilherme Gontijo Flores, vencedor de um prêmio Jabuti (e vários outros), finalista do Portugal Telecom, tudo isso com meros 32 aninhos de idade.

O livro faz parte de uma obra maior, que começou com um outro chamado “Brasa Enganosa” (que quase ganhou o tal Portugal Telecom), e ainda inclui um poema-site experimental chamado “Troiades” (.com.br), que recentemente também saiu em formato livro, caprichadíssimo.

Mas isso não quer dizer que essas obras sejam partes de um todo uniforme. Elas são bem variadas, quase destoantes mesmo, tanto internamente quanto na comparação umas com as outras.

Lirismo, invenção verbal, poesia marginal, alta literatura clássica (ele é professor de latim), vanguardas poéticas, todo tipo de linguagem e de sentimento serve à poesia do Guilherme. Todo tipo de sentimento é também gerado pela poesia do Guilherme. Do riso envergonhado ao sorriso sarcástico, do arrepio à lágrima escondida.

Não é pouca coisa.

Esse “L’Azur Blasé”, nesse sentido, pode ser a melhor síntese dessa carreira. Livro variadíssimo, amplo, colorido demais.

Além de tudo, ele se apresenta como se fosse a obra reunida do falecido poeta Guilherme Gontijo Flores.

E é aqui que aquela meta-meta-ironia vira sofisticação. Vira meta-meta-meta-ironia?

Criar um poeta fictício e publicar sua obra reunida seria uma coisa. “Brincar” de criar um poeta fictício e publicar sua obra reunida, bem outra. Lançar você mesmo sua obra póstuma reunida e chamar um posfaciador pra desancar o livro todo?

E ainda anunciar que este é o terceiro volume do que será uma tetralogia, apesar de o autor ter falecido, e estar vivo!

Indo de mãos dadas com o Guilherme o leitor sabe que está num salão de espelhos. Mas cadê o Guilherme de verdade? Ele ainda está segurando a tua mão?

O que sobra é que ficamos, como ele na foto que ilustra a orelha do livro, boiando satisfeitos, num fundo azul de satisfação, contentes num azul blasé.

Mas rindo de quem?

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