| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

É sintomático, é muito nosso e, de tão contundente, até faz rir. Curitiba tem uma atração fatal pelo vice. Adora o quase. Enamora-se com as coisas que já foram. E faz de seus limites não um desafio a ser superado, mas um aconchego eterno. Veja você nosso desempenho na Copa do Brasil: três vices consecutivos – feito que coloca Rubinho no chinelo. Porque não foi uma conquista, já que, como sabemos, ser vice é tão insignificante quanto indesejado.

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Durante a semana, outro carimbo de "quase lá". A Quadra Cultural pode deixar de existir porque há um entrevero entre seu organizador e a Fundação Cultural de Curitiba. Virou quase uma briga de egos. De um lado, há Arlindo Ventura, empresário astuto que criou um evento dos mais bacanas da história da cidade. Do outro, A Fundação Cultural de Curitiba, bem-intencionada, que fez malabarismos para que o evento acontecesse como aconteceu em outros anos, sim, mas deu para trás, como se diz, quando a água bateu na bunda. Porque, se Curitiba é para os curitibanos, todos eles, é uma obrigação moral da cidade bancar um evento como este, que ocupa pacificamente as ruas do problemático São Francisco uma vez por ano.

A certeza de que a mentalidade de vice está arraigada por aqui como raiz de araucária veio quando li comentários de leitores sobre o caso. Reproduzo um trecho da opinião do "Bruno", que gritou: "FELIZMENTE CRIARAM VERGONHA E CANCELARÃO (sic) ESSE EVENTO QUE SÓ TRAZ BÊBADOS, DROGADOS E PICHADORES PARA NOSSA REGIÃO."

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Talvez seja um problema de miopia, mas os "bêbados, drogados e pichadores" já fazem parte da paisagem natural do São Francisco. E dão uma sumidinha quando, justamente, há mais gente nas ruas. O julgamento instantâneo e egoísta é um baita equívoco a respeito da pulsação da cidade e um preconceito contra a sua própria evolução natural – aquela realizada por seus habitantes. Como diz Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades, esse pensamento "não faz mais sentido do que comparecer a um jantar comemorativo em um hotel e concluir que, se aquelas pessoas tivessem mulheres que cozinhassem, dariam a festa em casa".

A pecha de eterno vice retumbou de novo quando o velho punk Marky Ramone, que esteve na cidade e foi DJ convidado do James Bar, disse que as maiores lembranças de Curitiba são do show que fez com o Sepultura em 1994 na Pedreira Paulo Leminski. Pobre Ramone. Nem sabe que um dos maiores espaços de shows do planeta está às moscas desde 2008 por motivos que driblam o bom senso.

Ah, Curitiba. Estamos ficando para trás, como vices eternos e insensíveis, que ignoram até mesmo a estrelinha prateada na camisa.